O trem corria velozmente passando por vales e
montanhas deixando as paisagens rapidamente para traz, era
exatamente isso que Harry queria, deixar tudo para traz, queria
virar uma pagina da estória de sua vida e recomeçar a escrever
outra. Mas esquecer tudo que aconteceu naqueles últimos anos era
impossível, pelos menos tentaria tornar os anos que viriam um
pouco melhor.
Uma garoa fina e insistente caia do lado de fora batendo na
janela e escorrendo pelo vidro, Harry sabia que a qualquer momento
reveria as altas torres de Hogwarts, depois de tão longa
ausência , há quanto tempo seria ,
há uns quinze ou dezesseis anos ? Não se lembrava exatamente,
mas sabia que fora tempo demais. Como estariam os amigos agora,
será que o reconheceriam , essas entre outras perguntas ainda
assolavam sua mente já que perdeu totalmente o contato com todos
durante todo aquele tempo desde que entrara para a Ordem de
Gergana . O trem deu uns solavancos tirando-o de seus pensamentos,
a pequena Lilly que
dormia no seu colo resmungou um pouco , Harry aconchegou mais a
filhinha e ela continuou a dormir tranqüilamente. Contemplou a
menina cheio de amor ,ela, sua pequena filha, foi principal motivo
para voltar a Hogwarts. Desde que ele quase morrera numas das
missões resolveu largar o perigoso serviço para se dedicar a
criança, não que fosse covarde ou estava perdendo a fibra, mas
se algo acontecesse a ele Lily não teria mais ninguém , já que
perdera a mãe quando tinha apenas poucas semanas de vida e não
tinham mais nenhum parente próximo. Harry não queria que a filha
tivesse o mesmo destino que ele tivera no passado , órfão
vivendo com parentes que não o queriam bem. O trem apitou
longamente e ele começou a avistar as torres do castelo mas ainda
faltava um pouco para chegar, suspirou nostalgicamente seria
saudade?
Na sua mente ainda estava presente a visão de Cleyton,
integrante dos Crânios Escarlates, uma perigosa organização
feiticeiros das trevas, procurados pelo Ministério da Magia, o
Ministro havia acionado o Gergana , uma poderosa tropa de elite
contra o mal uso de magia ,para erradicar o terrível grupo.
Os acontecimentos das ultimas semanas ainda o assombravam,
Cleyton, que descobrira que Harry se infiltrara no grupo
secretamente estava preste a desferir o golpe fatal que o mataria,
isso só não aconteceu por causa da intervenção de Hudson , seu
parceiro, que chegou em cima da hora com reforços conseguindo
assim salvar o amigo. Depois disso , Harry muito ferido, ,ainda
ficou em observação o que deu tempo para ele pensar bastante, na
mesma tarde em que recebeu alta foi a sala de Kirk Malcon, chefe
da ordem de Gergana, depois de muito pensar tinha tomado uma
séria decisão.
- Harry - disse Malcon entusiasmado por de traz da sua mesa
quando viu ele entrar - que bom que se recuperou , dessa vez foi
por pouco.
- Muito pouco - resmungou Harry aborrecido - por isso que eu vim
aqui.
- Algum problema ? Sente-se... - convidou o chefe puxando uma
cadeira com levitação.
- Não obrigado - disse recusando a se sentar - pretendo ser
breve. É, tenho um problema mas vou resolve-lo agora - Harry fez
uma pausa pensativa de com a voz decidida disse - Malcon vou
deixar a ordem...
Malcon por um momento achou que não escutara direito, Harry
Potter um dos mais valorosos homens da Gergana queria
abandona-los?
- Harry ! - exasperou-se levantando-se da cadeira - você só
pode estar brincando , não pode abandonar a ordem assim...
- Estou falando sério Kirk , depois dessa ultima missão
resolvi tomar essa decisão, não quero mais arriscar minha vida.
- Você sabia dos riscos quando entrou para a ordem - replicou
Malcon ligeiramente irritado com a atitude de Harry - Sabia que
era um trabalho perigoso.
- Sempre soube - respondeu - já passei por situações
semelhantes ou piores que aquela , mas agora é diferente...
- Como assim diferente? - o chefe já estava ficando
inconformado - Não duvido de sua coragem sempre foi o melhor
agente, sempre resolveu seus casos , o que pode estar diferente
agora ?.
- Antes - explicou Harry que agora havia resolvido sentar-se -
eu não tinha ninguém me esperando voltar para casa, agora tenho
, anteontem quase morri, quem iria ficar com Lilly?
Malcom suspirou impaciente.
- Ah !Então é isso , bem que sabia que foi um erro permitir
que os membros da ordem se casassem e tivessem filhos... mas
achava que com você seria diferente , me enganei... vê como isso
atrapalha? Não permitirei que se vá.
Agora foi a vez de Harry se irritar, ele afastou a cadeira de
forma violenta para longe da mesa e disse secamente encarando
Malcon.
- Vá pro inferno Malcon! Estou fora - dizendo isso jogou em
cima da mesa o insígnia de Gergana, uma espécie de distintivo
que ganhavam quando eram incluídos na força especial - amanhã
voltarei para acertar as contas - e saiu batendo a porta com
estrondo atras de si.
Agora todo seu vinculo com a ordem foi desfeito poderia
recomeçar uma vida nova , sabia que a sua antiga escola lhe daria
apoio ,por enquanto ficaria na casa do padrinho, o velho Sirius,
mandara uma coruja havia três dias e recebera uma acolhedora
resposta e o novo endereço em Hogsmeade.
Lilly se mexeu novamente , bocejou e abriu os olhinhos verdes ,
ao ver o pai ela sorriu, Harry pegou sua pequena mão e beijou as
pontas dos dedinhos dela.
- Boa tarde , princezinha. - gracejou ele, até que estava se
virando bem cuidando de uma criança de dez meses sozinho, nunca
teve problemas ,apesar que no começo foi difícil tentar consolar
a pequena filha se ele mesmo se sentia inconsolável, não
acreditava que esposa morrera de forma tão banal ,sabia que seu
trabalho oferecia riscos ,mas pensou erroneamente que certas
coisas só acontecia com os outros, até que um dia aconteceu com
ele. Mas se não fosse a filha ele afundaria numa depressão que
achava até aquele dia não
sairia , a menina lhe deu forças para continuar, apesar que a
saudade de Ingrid ainda lhe doer na alma.
Finalmente o trem chegou a estação ,a garoa parara e um
resquício de sol saíra através das nuvens cinzentas ,Harry
pegou suas coisas e foi procurar a casa de Sirius, mas antes
resolveu passar numa loja próxima não queria chegar de mãos
vazias na casa do padrinho , seria muito indelicado. Quando entrou
na loja Lilly estava bem desperta , Harry tinha que ficar esperto
pois a pequena estava ensaiando seus primeiros passos. Ele estava
um pouco atrapalhado para pegar um pote de feijãozinhos de todos
os sabores, (um dia Sirius confessara que adorava tais
feijãozinhos), ele pretendia presentea-lo com eles.
- Precisa de ajuda? - perguntou alguém ao lado dele.
Harry se virou e viu uma moça de olhos lilases, muito
sorridente pegando o vidro e entregando para ele.
- Obrigado - agradeceu encabulado , guardando o pote na sacola -
parecia que estava em apuros - adivinhou ela passando a mão na
cabeçinha de Lilly - que garotinha mais linda, preciso ir, tchau.
- Tchau - despediu-se acompanhando ela com olhar, pagou o dono
da loja e retomou seu caminho.
Quando Harry bateu na porta da casa que o endereço indicava já
era quase noite, estava exausto, Lilly dormia novamente , sua
bagagem flutuava logo atras dele , bem que podia aparatar , mas
com Lilly não.
Quando a porta se abriu Sirius apareceu por de traz dela, quando
viu Harry ficou surpreso não esperava ver o afilhado tão cedo.
- Harry! não acredito é você? - disse ele trasbordando de
felicidade abraçando-o - veja só para você, como está
diferente.
Harry achou que ele estava se referindo aos seus cabelos que
agora estavam compridos presos num rabo de cavalo ( foi a única
maneira que ele encontrou para domar os rebeldes cabelos) mas
deixou-o muito elegante.
- Vamos Harry entre - convidou o padrinho logo em seguida
reparando no bebê - não me diga que essa criança é...
- Isso mesmo Black , essa é Lilly minha filha - sorriu Harry
- Ora vejam só , você dizia que tinha uma filha, mas não
pensei que fosse ainda um bebê.
- Espero que não tenha nenhum problema...
- Imagina , Rosemerta venha ver quem já chegou.- chamou Sirius
puxando Harry para dentro.
- Rosmerta?
- Isso mesmo, não sei se lembra da garçonete dos Três
Vassouras, nos casamos e agora vivemos aqui.
Uma simpática senhora apareceu na porta da cozinha enxugando as
mão num pano de prato, ao ver Harry estendeu os braços.
- Sr. Potter seja bem vindo..- e abraçou-o - veja que garotinha
linda , deixe-me pega-la?
Harry entregou Lilly que ainda dormia para Rosmerta, seu braço
já estava ficando cansado.
- Como é graciosa - disse contemplando a menininha.
- Rosmerta adora crianças - comentou Sirius - pena que não
tivemos nenhuma.
Mas mudando de assunto acho que não foi fácil sair do Gergana,
tão difícil para entrar e dificílimo para sair, mas quem seria
louco para sair , os privilégios...
- Eu fui louco o suficiente e seria mais louco ainda se voltasse
, foi complicado pedir a demissão mas estava decidido, depois do
incidente com Ingrid o Gergana só me traz lembranças tristes...
- Você me contou o que aconteceu com sua esposa em sua carta,
é não deve ser fácil.
- Está sendo ainda muito difícil...- suspirou ele triste mas
depois acrescentou um pouco mais animado - mas ainda tenho Lilly e
ela que me dá forças para continuar.
Sirius olhou para o bebê que Rosmerta ainda embalava nos
braços.
- Você se casou um pouco mais tarde que seus amigos.
- Como assim?
- Todos seus outros amigos já tem filhos adolescentes...
- Sério? - perguntou ele animado - como eles estão ?Não vejo
a hora de reencontra-los vou fazer uma surpresa.
- Quem vai ficar surpreso vai ser você.- brincou Black passando
a mão nos cabelos com mechas grisalhas que dava até um certo
charme a ele. - pode começar a procura-los em Hogwarts.
- Hogwarts? Puxa não imaginava encontra-los tão perto ,
preciso ir lá mesmo afinal. Será que poderiam cuidar um pouco de
Lilly enquanto dou um pulinho até lá?
- Mas Harry você acabou de chegar...
- Antes da janta estou de volta - disse ele se levantando e
tomando o caminho para a porta.
Estava ansioso para rever os velhos amigos será que eles o
reconheceriam? Será que ele os reconhecerá , bem o Rony não
seria muito difícil, pelos cabelos vermelhos , mas será que
está em Hogwarts também? Hermione ,ele tinha quase certeza ,
pois havia recebido um convite para lecionar lá, não sabia se
ela tinha aceitado .
Resolveu ir de a pé para contemplar tudo ao redor apesar de
Hogsmeade não ter mudado em nada , as mesmas ruas e lojas com
exceção de uma ou outra, bem que podia aparatar mas na verdade
ele odiava isso, considerava pior que o pó de flu, só o fazia se
houvesse muita necessidade.