Por Uma Boa Causa - Capítulo 1 - O passado vem a tona
Capítulo 1 – O passado vem à tona
- Eu. Odeio. O. Tiago. Potter. – Lílian repetia a
mesma frase pela quinta vez, de modo que parecia até que estava
tentando convencer a si própria do que dizia.
- O que ele fez, Lily? – perguntou Victoria
Manchester, sua melhor amiga desde o primeiro ano em Hogwarts,
chamando Lílian pelo apelido.
Lílian deu uma risada nervosa.
- O que ele fez? Tudo. Ele nasceu, o que já é o
bastante.
- Está bem, vou reformular a pergunta. O que o Tiago
Potter fez dessa vez?
- Ele... ele, bom, ele fez o que ele sempre faz.
Victoria bocejou, e perguntou:
- E o que é que ele sempre faz?
- O Potter é sempre terrivelmente arrogante, tem um
ego maior que a bunda do Hagrid, e dessa vez, só porque tirou um
décimo a mais do que eu em poções, ele ficou cheio de si, e fez
questão de quase gritar a nota quando estávamos vendo as notas no
mural.
- Ah, é só isso?
- Como só isso? O cara acha que porque uma vez em
toda a sua vidinha medíocre conseguiu tirar uma nota um décimo maior
do que a minha – Lílian disse a última parte com o mesmo desgosto
com o qual diziam o nome do Lord das Trevas – é o rei da cocada
preta. Ridículo.
- É, Lily... na maioria das vezes, para não dizer
sempre, vocês tiram a mesma nota: dez. A propósito, quanto foi que
você tirou?
- 9,9.
- Ah, Lily! Você está reclamando de barriga cheia.
Eu tirei 7 e meio e dou graças a Deus!
- Eu preferia tirar 7,5 a 9,9. Eu fico com muita
raiva de ter tirado uma nota assim sabendo que poderia ter gabaritado!
- Lily, Lily, nem sempre podemos ser perfeitos. E de
qualquer forma, eu lembro o quanto você atazanou a vida dele no
quinto ano só porque sua redação sobre uma futura rebelião de
duendes ganhou nota melhor do que a dele. Pelo menos ele está se
gabando por uma prova. Vale mais.
- Ei! Você é minha amiga ou dele?
- Digamos que eu prefiro ficar em cima do muro.
- Falsa! – Lílian exclamou em tom de zombaria,
para logo depois as duas caírem na risada.
Quando Lílian estava meio que distraída, Victoria
pegou um travesseiro e jogou nela, para logo depois ser
contra-atacada. A guerra durou uns cinco minutos, ou até todos os
travesseiros do dormitório já terem se transformado em penas. Ou
até uma certa loura, de olhos azul-safira e 48kg distribuídos em
1,70m de altura, que atendia pelo nome de Diana Davis abrir a porta e
ser atingida pelo último travesseiro sobrevivente. Seus lindos
cabelos louros platinados misturaram-se às penas de ganso.
- Argh! – ela gritou, histérica.
Lílian e Victoria se entreolharam.
- Hã... oi, Diana... a gente, a gente pode
explicar... – Victoria começou.
- Explicar? – o tom de Diana ficou ainda mais
histérico – Eu tinha um encontro agora. Agora mesmo. Eu vou me
atrasar! Olha o que vocês fizeram com o meu cabelo!
E ela começou a chorar. Lílian revirou os olhos e
arrastou-se de sua cama até a poltrona onde Diana havia se sentado e
sugeriu, solidariamente:
- Olha, Diana, eu posso ajeitar o seu cabelo... eu
sou ótima em Feitiços, você sabe.
Os próprios cabelos de Lílian, assim como o de
Victoria, estavam completamente coberto por penas, mas elas estavam,
como se diz na gíria, "pouco se lixando".
Diana enxugou uma lágrima.
- Você? Me ajudar? Há há. A Heather sempre disse
que você é uma...
Lílian respirou fundo e falou numa calma espantosa:
- Esquece a Waltham! Olha, Diana, pode até ser que
eu nunca tenha... hã... ido muito com a sua cara, mas eu realmente
detesto ver alguém da sua idade aos prantos. E o motivo é tão
banal...
- Banal? Você diz isso porque não é você que tem
um encontro com Tiago Potter em dez minutos!
A expressão de Lílian mudou visivelmente, e o tom
de solicitude de sua voz mudou para um tom de interesse supremo:
- Tiago Potter, é? Nesse caso, acho que posso não
só tirar essas penas como deixar o seu cabelo em alto estilo. Você
sabe, eu passo as férias na França, e eu sei exatamente o corte que
está se usando agora...
De sua cama, Victoria sorriu, balançou a cabeça e
cobriu o rosto com uma mão. Mas nenhuma das outras duas garotas viu
isso. Lílian, entretanto, devido a sete anos de amizade, sabia
exatamente a expressão que Victoria estava fazendo nesse exato
momento.
- França, é? – o tom de Diana era de entusiasmo
– Ai, Lílian, você é TÃO legal...
- Sou mesmo. – Lílian concordou lutando contra a
cara de deboche que ia formando-se em seu rosto contra a sua vontade
– Nem aquela sua amiga, a Waltham, ia ser tão legal quanto eu para
gastar seu precioso tempo fazendo penteados em você, não é mesmo?
- A Heather? Não ia mesmo! Ela parou de falar comigo
desde que o Tiago me convidou para sair. Você sabe, ele é o ex dela,
mas é claro que eu não ia ligar, não é mesmo? A Heather pode ser
super legal, mas eu não ia deixar de lado a grande oportunidade da
minha vida por causa dessas regras de amiga não pegar o ex da outra,
não é mesmo?
Desde o quarto ano, Heather Waltham e Tiago Potter
namoravam, rompiam, namoravam, rompiam. Nesses meio tempo entre o
namoro e a reconciliação, ele ficava com outras. Dessa vez foi a
Diana Davis, para grande desgosto de Heather Waltham, pois desde seu
primeiro ano, Diana fora sua maior puxa-saco.
- O que é isso, Lílian? – perguntou Diana
tentando espichar o que Lílian estava fazendo – Por que você não
me deixa olhar no espelho enquanto você está ajeitando?
- Oras, Diana, eu acho melhor deixar a surpresa pro
final...
- Que troço verde é esse? – Diana, agora
histérica, perguntou ao examinar uma mecha de seu cabelo.
- Isso... hã... é... bom, isso está suuuuuuuper na
moda.
- Uma palavrinha, Lily! – era a voz de Victoria que
vinha de trás de seu ombro.
- Que é?
Victoria puxou Lílian para um canto e sussurrou:
- O que você está ganhando estragando o cabelo
dessa pobre coitada?
- Vingança ao Potter!
- Lílian, me diga, você tem dezessete ou sete anos?
- Eu... ah, deixa disso. Eu tenho que terminar o
cabelo da Diana!
- Lily, estragar o cabelo dela não vai ser de mal
algum para o Tiago, você sabe...
- Ele vai pagar o maior mico desfilando com uma
garota assim...
- O que é que vocês estão cochichando aí? –
Diana perguntou da outra extremidade do quarto.
- Nada – berrou Lílian – É sobre o seu cabelo.
- Como eu ia dizendo, - sussurrou Victoria – se
você estragar o cabelo dela, o máximo que vai acontecer é o Tiago
inventar uma desculpa e sair com uma outra garota. Ou sair com ela de
qualquer jeito, mas lembre-se: quem vai sair na melhor, nesse caso, é
a Heather Waltham!
Lílian ponderou a questão por uns instantes, e, um
tanto a contragosto, ela, que na verdade não entendia patavina de
cortes de cabelo, usou sua mágica para deixar a cabeleira de Diana
Davis mais bonita do que nunca (a começar pela retirada da tinta
verde).
**
Na noite seguinte, no dormitório feminino do sétimo
ano, que estava vazio a não ser por duas pessoas...
- Lílian, sinceramente, no que diz respeito ao
Tiago, eu não te reconheço. Sempre quando se trata de armar uma
contra ele, você parece ficar terrivelmente mais imatura!
- É que... bom, o Potter me deixa louca!
- Louca ou não, você é monitora-chefe. – se
prestasse-se mais atenção, perceberia-se que o tom de voz de
Victoria revelava uma certa indignação; ela sempre quis ser
monitora-chefe, e ficou um tanto triste quando Lílian foi escolhida,
mas nunca revelou isso, e por um lado, até ficou um pouco feliz. Por
Lílian. Mas quando Lílian agia desse jeito imaturo, ela sentia uma
certa raiva – Aliás, às vezes eu me espanto que você foi
escolhida.
Lílian teria notado esse tom na voz de Victoria se
tivesse menos chateada.
- É. Eu não teria aceito se soubesse que o Potter
seria o monitor-chefe.
Victoria revirou os olhos.
- Lílian, quem mais você acha que escolheriam? Os
meninos que têm as maiores notas aqui são o Tiago e o Sirius. O
Sirius vai em detenção uma vez por semana, no mínimo. Bom, o Tiago
também não é nenhum santinho, mas como você, ele sabe disfarçar o
que faz, e de todo modo, ele tem muito mais carisma do que o Sirius.
Está bem, o Sirius é o garoto mais bonito dessa escola, e é até um
pouco simpático, mas ele não tem o jogo de cintura do Tiago. Você
sabe, o Sirius tem ódio mortal por qualquer criatura que pertença à
Sonserina, e bem ou mal, a Sonserina é 25% de Hogwarts. O Tiago sabe
ser simpático com os sonserinos também, e você sabe, ele tem o
maior fã-clube lá.
Lílian revirou os olhos.
- E onde é que esse babaca não tem fã-clube? A
população feminina de Hogwarts acha que saber jogar uma bola dentro
de uma trave é um talento espetacular, por isso que correm tanto
atrás dele.
- Isso faz parte do quadribol, Lily. E não é só
jogar bola na trave. Tem que ter habilidade.
- Será que nós podíamos NÃO falar do Potter por
um instante?
- Você quem sabe. Quem fala nele vinte e quatro
horas por dia é você.
Lílian lançou um olhar quase-assassino para a
amiga, que continuou a falar:
- A propósito, eu acho que você deveria abrir um
Salão de Beleza. Parece que dessa vez, o Tiago engatou romance com a
Diana.
- O QUÊ?
- Ué? Eu achei que você estaria feliz. Por causa da
Waltham, quer dizer, porque ela deve estar se roendo de raiva.
- Eu estou pouco me lixando. – Lílian deu de
ombros – Só estou com pena daquela pobre coitada, a burrinha. E o
Potter e a Heather se mereciam, mesmo.
- O que eu não entendo, Lily, é como você e o
Tiago, que eram tão inseparáveis, mudaram da água pro vinho de uma
hora pra outra. Até o quinto ano, eu até sentia ciúmes da amizade
dele com você, e de repente, do nada, vocês começam a se estranhar,
a se odiar.
Lílian suspirou.
- As pessoas mudam, Vicky.
E mais nenhuma palavra foi dita. Lílian fechou os
olhos e lembrou de um passado não muito distante.
"Tiago, você tem certeza de que não vamos ser
pegos?", Lílian ouviu seu eu de 11 anos perguntar.
Tiago Potter, então com onze anos, respondeu com
aquele seu sorriso de derreter gelo, "Claro que não, Lily. Você
não confia em mim?"
Ela lembrou-se de ter feito uma careta, mas
lembrou-se também de que, no fundo, no fundo, acreditava piamente em
qualquer coisa que ele dissesse. "Sei não, hein. Se o Filch nos
pega..."
"Relaxa, Lily."
"A McGonagall vai ficar decepcionada, e..."
"Lily, Lily," ela lembrou-se do melhor dos
sorrisos de Tiago Potter: aquele que ele fazia só para ela, "O
máximo que pode acontecer é que a McGonagall não vai mais puxar seu
saco."
Lílian lembrou-se de ter feito outra careta. E de,
novamente, no fundo estar sorrindo.
- Se você soubesse, Tiago, se você soubesse... –
ela, de volta ao presente, murmurou bem baixo, enquanto uma lágrima
fugia de seu olho.
"Tiago, como é que você consegue entender
isso? A McGonagall que me perdoe, mas Transfiguração é além de
difícil, chato!"
Um Tiago Potter de doze anos riu. "Que nada...
se não fosse o quadribol, eu diria que Transfiguração é a minha
matéria favorita. O que é que você não está entendendo?"
Ela suspirou, envergonhada e respondeu
"Sinceramente? Tudo. Não estou entendendo nada com nada."
Ele aproximou-se dela, e segurou a varinha junto com
ela. Suas mãos se tocaram. Ela lembrou-se de um esforço violento
feito por si mesma para não ruborizar.
"É só falar bem pausadamente as palavras
mágicas, e concentrar-se bem no que você quer transformar." Ele
disse ao apontar a varinha de Lílian para uma maçã. "Vamos, é
só tentar!"
Ela tentou, e conseguiu, não porque os conselhos
fossem muito valiosos, mas porque ela sabia que perto dele, não tinha
o que não conseguisse.
Outras lágrimas seguiram a primeira rumo a algum
lugar longe dos olhos da adolescente.
- Você era o meu melhor amigo...
"Lily! Olha só isso aqui," um Tiago de 13
anos a chamou, "Lílian Evans!"
"Ai, que é?", o encanto infantil por ele
já estava meio que passando, e ela estava meio aborrecida na hora,
"Fala logo que eu tenho mais o que fazer!"
Ele riu e murmurou algo como 'TPM', e ela fingiu não
escutar. "Venha cá e veja você mesma!," ele insistiu.
Ela foi até ele, atrás de uma pilastra, e ele
apontou para um gato verde. "Que diabos é esse...?," ela
não precisou nem do tempo de terminar a pergunta para descobrir que o
'gato' em questão era a Madame Nor-r-ra. Lílian lembrou-se de ter um
ataque histérico de risos, que chamou a atenção de Filch, e
ocasionou em sua primeira detenção. E na milésima de Tiago.
- Não me espanta que brigamos – ela murmurou,
parando de chorar – Mas até que valeu a pena. Foi engraçado. – e
riu uma risada baixa.
"Lily, Lily!" Victoria, aos 14 anos, a
chamava no tom de voz mais entusiasmado que Lílian já ouvira vir de
sua boca, "Adivinha só!"
"Fala logo!," Lílian lembrou-se de ter
estado curiosa.
"Eu soube que vai ter um Baile de Inverno,
Lily!," Victoria disse, "Eu ouvi uma garota do sétimo ano
falar, e parece que nós vamos poder ir, já que somos do quarto
ano!"
"E por que ainda não avisaram, então?"
"A McGonagall deve avisar nessa aula dela de
agora."
"Ah, tá."
E ao final da aula, McGonagall deu a notícia.
Lílian lembrou-se de ter esperado que Tiago a convidasse. Não com
segundas intenções, é lógico, mas como amigo, como seu melhor
amigo. Mas não foi bem isso que aconteceu. Logo após a notícia ter
se tornado pública, por esse motivo, Lílian olhou para Tiago. Mas
ele não retribuiu o olhar, nem virou-se para ela.
Ela ainda fez hora perto da porta da sala de aula,
esperando ele sair do meio da multidão. E finalmente, ele saiu, e
veio correndo em sua direção. Ou quase. Ele parou para falar não
com ela, Lílian, mas com a garota ao seu lado. Lílian teria ficado
apenas decepcionada se fosse qualquer outra garota do mundo. Mas sendo
quem era, Heather Waltham, a arrogante, a metida, a nariz-empinado, a
tudo-de-ruim, Lílian lembrou-se de ter sentido algo de novo, algo que
nunca sentira antes em sua vida, nem nas muitas brigas com Petúnia:
ódio.
Tiago e Heather foram juntos ao baile. E foi quando
começaram a namorar.
- Por quê, seu idiota, por quê? Por que justo ela?
– Lílian clamou de modo inaudível – Depois disso, nunca mais foi
como antes, você não tinha mais tempo para mim, e aquela babaca
sabia mais da sua vida do que eu. Depois de tantos anos de amizade...
o copo começou a se encher, mas a gota final ainda estava por vir.
E veio. No quinto ano.
"Tiago..." Lílian chamou o garoto de 15
anos no salão comunal, "Tiago Potter!"
"Agora não dá, Lílian," de uns tempos
para cá, ele não a chamava mais de Lily, "Mais tarde, tá
bom?"
"Está ótimo," ela murmurou num tom quase
que sarcástico. Ocupado, como sempre. Ela nem ousava mais falar com
ele quando ele não estava brigado com a Heather. De melhores amigos,
eles haviam se transformados em meros colegas. Mesmo agora, quando ele
e Waltham estavam brigados, ele não tinha mais tempo para ela.
Aliás, ultimamente, então, ele andava saindo muito
com os amigos. Os quatro "Marotos" cismavam em viajar com
Remo sempre que a avó dele morria (o que já havia acontecido três
vezes, Lílian reparou) ou uma das tias ficava doente, ou a mãe dele
tinha outro bebê que morria no parto. Mensalmente.
Mas pelo menos era com Remo, Lílian se pegava
pensando, Remo, Sirius e Pedro sempre foram amigos dele. E meus, desde
a nossa época. "Nossa época," Lílian pensava, "é
exatamente o que parece. Já passou."
Um belo dia, foi de um modo um tanto estranho, pois
era a segunda vez que viajavam no mesmo período de um mês, os
Marotos partiram, mas dessa vez, levaram Heather Waltham junto.
Lílian não lembrava-se de outra ocasião em sua
vida em que tivesse chorado mais.
Quando voltaram, Lílian começou a não tentar mais
falar com ele, e ele nem notou. Mas, uma vez, quando ele e Heather
brigaram, pouco tempo depois, ele foi atrás de Lílian.
"Lily," ele estava voltando a chamá-la
assim, e apesar de sentir uma vontade tremenda de responder de modo
cândido, Lílian apenas olhou para ele friamente. Se ele notou, não
chegou a demonstrar isso, "Lily," ele continuou, "Eu
preciso da sua ajuda."
Ela deu uma risada nervosa e sarcástica, "É
incrível como você só me procura quando precisa da minha ajuda para
alguma coisa."
"Do que você está falando?"
Ela balançou a cabeça, sorrindo forçadamente,
"Do que eu estou falando, Tiago?," riu nervosa, "De
nós dois!"
Ele inclinou a cabeça interrogativamente, e ela
continuou, "Tiago, de um ano para cá nós viramos estranhos!
Você era o meu melhor amigo..."
"Não sou mais?"
"Não, não é."
A expressão facial dele tornou-se grave, "Isso
é uma pena, Lílian. Eu sempre gostei muito de você. Você ainda é
a minha melhor amiga."
"Mentira."
"Como você pode dizer isso?"
Ela soltou um grunhido nervoso, "Como? Talvez
porque durante um ano você me ignora continuamente, nunca tem tempo
para falar nem oi. Você e os garotos estão sempre cheios de segredos
comigo e eu não vou nem falar que você namora a minha pior
inimiga!"
"Eu nunca pensei que..."
"É exatamente isso, Tiago, você simplesmente
não pensa."
E lembrou-se de ter virado as costas para ele e ido
embora. A partir daquele momento, ela soube que os dois nunca mais
seriam amigos como antes.
Lílian suspirou e revirou-se na cama.
- O que será que ele queria dizer naquele dia? –
perguntou-se – Bah! Bobagem ficar imaginando o que seria; eu nunca
vou saber, mesmo.
Daquele dia em diante, Tiago ficou muito mais
atencioso com ela, mas ela começou a sentir uma espécie de aversão
a ele. Não se sentia mais confortável para rir do que ele dissesse,
ou para conversar com ele. Não foram poucas as vezes em que ele
tentou voltar ao assunto com ela, mas foi inútil. Ela estava resoluta
em tratá-lo o mais friamente possível.
Lílian lembrou-se de, um mês depois da briga, ter
começado a fazer tudo para ser detestável com Tiago, por mais que
ele tentasse reaproximar dela.
"Lílian...," ele veio correndo atrás dela
depois da aula de Feitiços.
Ela revirou os olhos de modo que ele pudesse perceber
e falou, no tom mais entediado que conseguiu arranjar, "O que é,
Potter?"
"Potter?"
"Sim, Potter. E daqui por diante, para você eu
vou ser Evans. Se você me chamar de Lílian ou Lily, eu não vou
responder."
"Ótimo," ele disse rispidamente, "Mas
não será necessário, pois essa será a última vez que digo o seu
nome, Lílian Evans."
Naquele dia, Tiago e Heather fizeram as pazes.
- É difícil lembrar que aquele babaca já foi um
cara legal. – Lílian soluçou, meio que rindo, virou-se na cama e
adormeceu.