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Por Uma Boa Causa - Capítulo 2 - Quase Como nos Velhos Tempos
Capítulo
2 – Quase Como nos Velhos Tempos
-
Você viu, Lily? – Victoria perguntou, triste, no meio da aula de História
da Magia – Já foi anunciado o Baile de Inverno.-
É, eu sei. – Lílian respondeu.-
Que droga, hein! Eu adoraria ir, mas você sabe, meus pais fazem questão
que eu esteja junto deles no Natal. Para mim, Natal é época de ganhar
presentes, para eles, é uma confraternização entre familiares!
Lílian
riu e disse:
-
Eu também não vou, embora o Dumbledore tenha dito que como
Monitora-Chefe,– ao ouvir essa última expressão, Victoria sentiu uma
pontada no estômago – eu deveria. Meus pais são bastante liberais,
você sabe, mas eu gosto de estar perto deles pelo menos nessa época;
eu acho que o Natal é uma época bastante importante para se estar
junto da família.
Isso
não era verdade por completo. Desde o quarto ano, quando Tiago e
Heather começaram a namorar, Lílian não comparecia a mais nenhum
Baile de Inverno.
-
Bobagem. – Victoria deu de ombros – Eu daria tudo para estar nesse
baile, mas... – suspirou – se eu não for, a minha mãe vai ficar
muito chateada mesmo, você sabe. Eu já fiquei pro baile do ano
passado.
-
Se não fosse pela Petúnia, eu estaria radiante em ir para casa. – Lílian
levou a mão à testa – Ah! Ainda tem isso! O noivado dela... ela vai
casar com aquele garoto, o Válter...
-
O porco?
-
Exatamente. Aliás, ele estava com uma aparência um tanto engraçada da
última vez em que eu o vi. Ele está deixando crescer um bigode, e está
cada vez mais gordo. Se ele tivesse cabelos brancos e fosse menos
mal-encarado, ele bem que poderia encarnar o Papai-Noel.
Victoria
sorriu.
O
professor Binns limpou a garganta ruidosamente e elas se recompuseram.
-
Esse cara não morre, né? – Victoria disse sob a respiração – Ele
já deve ter idade para ser tataravô do meu tataravô!
Lílian
riu, e Binns anunciou:
-
Menos cinqüenta pontos para a Grifinória. Silêncio!
Depois
de receberem olhares assassinos de todos os colegas, as duas se
encolheram em suas respectivas carteiras e assistiram ao resto da aula
em silêncio.
Quando
a aula acabou, e Lílian, como sempre, demorou para arrumar suas coisas
na bolsa, ela sentiu uma mão sobre o seu ombro, estremeceu e virou ao
reconhecer o toque. Tiago.
-
O que é?
-
Você hein, Evans? Só serve para atrapalhar! Perde todos os pontos que
eu ganho às custas de muito suor no quadribol.
Ela
cruzou os braços.
-
Para a sua informação, Potter, eu quase nunca
perco pontos. Ao contrário de você e dos seus
amigos, não é mesmo?
Ele
ignorou o que ela disse.
-
Bom, de todo modo, eu não fiquei aqui plantado para discutir isso com
você. Eu queria falar sobre o Baile de Inverno...
Ela
respirou fundo e disse:
-
O que é que tem?
-
Não é uma notícia agradável, aliás, nem um pouco mesmo, mas como
Monitores Chefes, vamos ter que ir juntos.
-
Ah, é?
-
É.
-
Mas eu não vou.
-
Deixa de ser babaca, Evans. Eu também não estou soltando fogos por ter
que ir com você, mas nem por isso fico fazendo beicinho e dizendo que não
vou.
-
Considerando o número de garotas que correm atrás de você, deve ser
muito chato ter que ir comigo, não é mesmo, Sr Popular Potter?
-
Não é culpa minha que eu sou legal e você é uma chata. Não me
admira que ninguém nunca te convide.
Ela
ficou com muita raiva, e retrucou:
-
Para a sua informação, Potter, muita gente me convida, mas...
-
Na sua imaginação, o mundo inteiro te convida. Não parou de sonhar
com o príncipe encantado, não é, Evans?
Ela
respirou fundo e falou:
-
Wingardium Leviosa!
E
Tiago começou a flutuar, flutuar, até ficar preso no lustre.
-
Que isso sirva de lição – Lílian disse, sorrindo, e deixando Tiago
na sala.
**
-
Isso não foi nada, nada legal, Lílian! – Victoria a advertiu –
Mas, bom, deve ter sido engraçado – e riu.
Lílian
riu também e falou:
-
Foi mesmo... você precisava ver a cara dele!
Victoria
riu, balançando a cabeça:
-
Vocês dois, hein!
-
Ai, lá vem você!
-
Ele foi muito legal em não te dedurar.
-
E quem disse que ele não fez isso?
-
Bom, a aula do Binns foi logo depois do almoço e já está quase na
hora do jantar. Falando nisso, você está afim de descer?
-
Não estou com fome.
-
Você nunca está.
-
Eu não gosto de jantar.
-
Oh, que fofura! – Victoria fez uma voz tatibitate – Por quê? A mamãezinha
disse que dá pesadelo, foi?
Lílian
riu, e pegou um travesseiro para atirar nela.
-
Não faça isso! – Victoria a advertiu – Já demos muito prejuízo
para Hogwarts com travesseiros.
-
O que quer dizer, - Lílian disse com um sorriso traquinas, atirando o
travesseiro na amiga – Que um a mais não vai fazer diferença.
-
Então dois a mais também não vão fazer! – Victoria tacou outro
travesseiro nela.
-
BASTA! – disse uma voz que vinha da porta.
Lílian
revirou os olhos debochadamente ao ver Heather Waltham com aquele nariz
empinado olhando para elas com um ar de superioridade.
-
Quando é que vocês vão crescer, hein? – ela perguntou rispidamente
– Me admiro que você,
Evans, tenha sido eleita Monitora-Chefe. É um cargo que exige muita
responsabilidade, precisariam de alguém como...
-
Você? - Lílian sugeriu ironicamente.
-
Exatamente. – Heather sorriu com seu habitual ar superior.
-
Você ainda não se curou da dor-de-cotovelo, não é mesmo? – Lílian
perguntou.
Heather
fez uma careta, e olhou de modo ameaçador para Lílian, o que fez
Victoria levar a mão à boca para esconder um riso escarninho.
-
Para a sua informação, Evans, eu praticamente dei o Tiago de bandeja
para aquela garota. Ele já estava me enjoando.
-
Ah, sim! – Lílian riu – O engraçado é que você voltaria para ele
feito um au-au se ele assobiasse.
Heather
aproximou-se de Lílian, com a mão erguida.
-
Alto lá! – Lílian a advertiu – Não sabe usar a varinha, não?
Heather
sorriu cinicamente, abaixando a mão.
-
Eu não sujaria minhas mãos com você, Evans. E quanto à sua pergunta,
muito melhor do que você, devo dizer, afinal de contas, eu sou uma
bruxa legítima, e não uma produção de trouxas.
-
E com muito orgulho! – Lílian exclamou.
-
Trouxas me enojam.
-
Quase-abortos como você, então... nossa! – o tom de Lílian era sarcástico
– Me fazem sentir ânsia de vômito.
Heather
ergueu sua mão novamente, e Victoria se meteu entre as duas.
-
Vocês querem parar com isso? – disse, virando o rosto várias vezes
para encarar as duas – E Heather, não era você que estava falando de
infantilidade? Então, aja como uma adulta! – virou-se para Lílian e
sussurrou – Você vai perder o seu tempo com essazinha?
Heather
deu uns passos para trás e Lílian caiu na cama, para levantar logo em
seguida, lembrando-se que era Monitora-Chefe e que deveria estar
supervisionando os alunos mais novos no Salão Comunal.
Tiago
estava sentado numa poltrona, despreocupadamente transformando pedaços
de pergaminho em gaivotas, e enfeitiçando-as, de modo que voassem sem
precisar de impulso.
-
Potter, Potter. – Lílian falou sentando-se perto dele – Você não
cresce, hein. – a voz era baixa e, dessa vez, não continha malícia
alguma. Era como se ela estivesse pensando alto.
Ele
olhou para ela e ergueu as sobrancelhas.
-
Até os mais crescidos precisam se divertir, - ele disse – você
mesma. – riu brevemente – deve ter se divertido à beça às custas
de ter me feito parar no lustre. Devo admitir que foi um truque razoável.
-
Vindo de você, eu vou aceitar isso como um elogio.
Ele
deu de ombros, e ela continuou:
-
Você não vai jantar?
-
Já jantei.
Ela
ergueu a sobrancelha.
-
Por que você não me dedurou?
Ele
amassou um pedaço de pergaminho, e começou a brincar com ele.
-
Eu não sou dedo-duro. – ele olhou para ela – E não acho que ficar
fazendo beicinho pro Dumbledore vá resolver isso. Você vai ter o seu
troco, mas sou eu quem vai dar, e não uma detençãozinha qualquer.
-
Isso é uma ameaça?
-
Não, é um aviso. – ele sorriu apesar do tom sóbrio que usava.
-
Olha, estou tremendo de medo! – ela fez uma vozinha sarcasticamente
aguda e ele riu.
-
O que você quer falar comigo, Evans? Você não veio até aqui para
conversar, foi? Porque ao que eu saiba, inimigos não ficam dialogando.
-
Eu também sou Monitora-Chefe, Potter, eu devo tomar conta dos alunos
mais novos, ver se eles estão se comportando bem – olhou para um
grupo de alunos do terceiro ano que se divertiam com xadrez de bruxo –
Porque se depender de você, - olhou para o bando de gaivotas que voava
pelo Salão Comunal – eles vão ficar ainda piores.
-
A vida é curta, Evans – ele disse – precisamos saber nos divertir.
-
Existem regras a ser cumpridas, Potter.
-
Regras foram feitas para serem quebradas.
Ela
suspirou e falou:
-
Bom, na verdade, eu vim aqui para te pedir desculpas – corou – Eu
devia ter me contido, eu tenho responsabilidades e ultimamente não as
tenho cumprido. Mas considerando que você já está planejando uma
revanche, acho que já devemos estar quites.
-
OK, esquece isso.
-
Ah, e antes que eu me esqueça, Potter – ela falou – a sua
namoradinha mais constante está tendo ataques histéricos que estão me
irritando muito, muito mesmo. Não daria para você dar um jeito nela?
Ele
riu.
-
Acho que preciso romper com a Heather mais vezes.
**
O
dormitório já estava escuro como breu quando Lílian voltou, já
vestida para dormir (ela acabara de sair do banheiro feminino). Ela
sussurrou algo como ‘Lumos’ para que pudesse chegar à sua cama sem
tropeçar em nada.
Mas
Victoria, na cama ao lado, abriu as cortinas, e falou:
-
Lily?
-
Te acordei, Vicky?
-
Não, eu estava sem sono. – ela disse.
-
Eu perdi o meu. – Lílian falou.
-
Ótimo, assim podemos conversar.
-
Não com essa chata aí – Lílian apontou para a cama de Heather
Waltham com o queixo – Vamos pro Salão Comunal... eu tinha vindo aqui
para tentar dormir, já que eu não tinha nada para fazer, mas já que
você também está sem sono, nós podemos ir para lá. Está vazio.
-
Por mim, tudo bem, mas... – Victoria olhou para o próprio pijama,
cuja estampa era de ursinhos, que lembravam Lílian dos ursinhos
carinhosos, jogando quadribol – não seria melhor trocarmos de roupa?
Imagina o mico se alguém me vir com isso?
Minha mãe que fez, e ela acha lindo, mas pelo amor de deus, eu tenho
dezessete anos. Sou no mínimo velha demais para usar isso.
-
Bobagem sua, eu tenho uma camisola com o desenho do Pato Donald.
-
De quem? – perguntou Victoria, que vinha de uma família
‘sangue-puro’, os Manchester.
-
Um pato de desenho animado trouxa.
-
Ah, tá.
-
Bom, não tem ninguém lá embaixo... e duvido que alguém vá aparecer
a essa hora da manhã.
-
Mas, - Victoria parecia horrorizada – você usa uma camisola com um
pato desenhado?
-
Deixa pra lá. – Lílian revirou os olhos.
-
A sua mãe te obriga a usar isso? – Victoria fez uma careta.
-
Não! – Lílian respondeu – No mundo dos trouxas, nós achamos
bonitinho usar esse tipo de coisa.
Victoria
ergueu as sobrancelhas em desdém. Como alguém poderia achar bonitinho
ter que vestir um troço daqueles?
-
Acho que ando mal em Estudos dos Trouxas.
Lílian
sorriu e falou:
-
Eu nunca vi ninguém mais empenhada do que você para aprender nossas
coisas...
-
Lily, você é uma bruxa também, não se esqueça disso.
-
Eu sei, mas eu não posso esquecer das minhas raízes.
-
Eu queria ser nascida-trouxa também, sabe? Deve ser bom aprender duas
culturas...
-
Bobagem, eu não sei metade do que você sabe sobre cultura popular dos
bruxos. Para isso, é preciso ter família bruxa.
-
Pode ser, mas eu bem que gostaria de saber mais sobre trouxas. Nós
aprendemos muitas coisas complexas na aula de Estudos dos Trouxas, mas
as coisas mais triviais são deixadas de lado. Quando você me mostrou
um telefone, eu quase tive um treco!
Lílian
riu e, ao ouvir um rangido vindo da cama de Heather Waltham, sussurrou:
-
Vamos, Vicky, chega de conversa mole! Você sabe o quão escandalosa a
Waltham é, e não tem ninguém lá embaixo, vamos descer!
Victoria
olhou mais uma vez para seu pijama, e, sem mais uma palavra, acabou indo
daquele jeito mesmo para o Salão Comunal.
**
-
Continuando o papo, - Lílian disse – eu acho que você deveria fazer
um intercâmbio.
-
O que é que intercâmbio tem a ver com querer saber mais sobre trouxas?
– Victoria perguntou, mas antes que Lílian respondesse, algo lhe
ocorreu e ela mesma continuou – Ah, claro! Você quer dizer um intercâmbio
no mundo dos trouxas!
-
Isso!
-
Seria fascinante, mas... – ela baixou os olhos – você tem noção
da burocracia? Depois de formada, eu teria que assinar vários
documentos garantindo que não contaria nada aos trouxas, etc etc, e
imagina o tempo que ia demorar pra autorizarem tudo. E a família
hospedeira trouxa ia acabar sabendo...
-
Você não precisa ficar numa família, Vicky, você pode só estudar,
numa faculdade, sei lá.
-
É, pode ser.
-
Bom, mas não era sobre trouxas que eu queria falar com você. – Lílian
começou timidamente – É sobre...
-
O Tiago?
-
Como você sabe?
-
Oras, bolas, é o seu assunto favorito. - o tom era monótono.
Lílian
corou e pôs as mãos na cintura.
-
Ei! Ele não é o meu assunto favorito!
Victoria
suspirou.
-
Ai, Lily, eu não vou ficar discutindo isso com você senão vamos ficar
horas falando e não vamos chegar a lugar algum. Você é teimosa demais
para aceitar isso.
Lílian
olhou de modo ameaçador para ela, e Victoria, no mesmo tom monótono e
cansado falou:
-
Ok, ok, fala o que você queria dizer sobre ele...
-
Ele realmente não me dedurou.
-
Eu sabia.
-
Bom, mas ele garantiu revanche.
-
Você esperava algo de diferente dele?
-
Você quer que eu conte ou não? Me deixa falar!
-
Tá bom, tá bom!
-
Bom, ele foi até legal comigo, e eu acabei pedindo desculpas pelo que
aconteceu depois de Feitiços.
-
Isso é um upgrade.
-
Você quer calar a boca?
Victoria
levantou as mãos, de modo que sua cabeça ficou entre suas palmas.
-
Bom, eu não senti ódio. – Lílian continuou.
Victoria
sorriu e Lílian prosseguiu:
-
Não é o que você está pensando!
-
E o que é que eu estou pensando?
-
Esquece.
-
Vai, continua!
-
Mas tem uma coisa ruim, eu e ele vamos ter que ir juntos ao baile.
-
Até parece que você está achando isso uma coisa ruim. Até agora, você
só fez se derreter por ele...
Lílian
ficou indignada e falou:
-
Eu não gosto dele, Victoria, que droga! Eu só estava falando que, por
um momento, - sua voz ficou menos aguda e transformou-se num sussurro
– parecia que éramos amigos como antes.
-
Vocês brigaram à toa, Lily, eu sempre te digo isso...
-
Não foi à toa.
-
O motivo oficial da briga, que eu saiba, foi que ele discordou do seu
argumento em poções.
-
Você já ouviu falar em causa imediata e causa principal?
-
Eu não sou ignorante.
-
Bom, nós já estávamos nos ignorando antes, e você sabe disso muito
bem.
-
Você que o estava ignorando!
-
Ok, mas a culpa foi dele.
-
Vocês brigaram à toa, já disse.
-
Não foi! Ele não confiava em mim. Eu já fiquei meio balançada quando
ele e os garotos ficaram com segredos para mim, mas quando o grupinho se
estendeu à Waltham, isso foi demais para tolerar. Quando era só um
segredo dos “Marotos”, eu não tinha como ligar, eu nunca quis
competir com o Sirius ou com o Remo ou com o Pedro, e nem teria como.
Mas a Waltham?
-
Lílian, isso se chamam hormônios. Se não fosse a Heather, seria outra
garota. A menos que você quisesse que fosse você...
-
Claro que não! – exclamou, indignada – Olha, eu estou realmente
morrendo de sono. Ou vamos dormir ou mudamos de assunto.
-
Quem começou o assunto foi você!
-
Então estou terminando com ele agora. Não dá para conversar nada com
você sem que você leva as coisas na maldade.
-
Eu não estou levando as coisas na maldade, Lílian, só estou tirando
conclusões lógicas. Se você quiser falar sem ouvir a opinião alheia,
tente falar com as paredes!
E
foi correndo para longe de Lílian, acabando por esbarrar em Frank
Longbottom, um colega do sexto ano, que viera buscar um copo d’água.
-
Pijama legal, hein, Victoria! – ele disse entre risos debochados.
Ela
corou e Lílian riu do canto do salão em que estava. Sem dizer uma
palavra, Victoria correu até o dormitório, sendo seguida por Lílian.
**
Lílian
acordou ofegando e olhou para os lados, vendo apenas a espessa cortina
de veludo escarlate de sua cama. Abriu-a e pôs as pernas para fora.
Rapidamente, transfigurou seu pijama nas vestes de Hogwarts (“muito
mais prático que ter que ir até o fim do mundo pra trocar de roupa,”
pensou). As outras meninas ainda estavam dormindo, e Lílian percebeu
deliciada que Heather roncava. Baixinho, mas roncava. Imagina
se o Potter casar com ela, pensou enquanto ria mentalmente, Vai
ter que agüentar o motor dentro dela.
Desceu
a escada de mármore que ligava o dormitório feminino do sétimo ano ao
Salão Comunal, que estava vazio, e Lílian não tinha a menor idéia de
que horas eram, simplesmente porque ela não usava relógio de pulso
(dava alergia) e porque sem ninguém acordado, ela não tinha a quem
perguntar. Mas ao chegar no Salão Comunal, ela examinou o grande relógio
que ficava em cima da lareira e marcava quatro horas e quinze minutos. Nossa!
Dormi menos de 3 horas... porque será que eu acordei tão de repente?
Fechou
os olhos e o sonho voltou a sua mente, meio embaçado, mas ainda muito
real...
Ela,
um bebê e um homem irreconhecível – ela só conseguia ver uma sombra
- estrelavam o sonho.
A
vida parecia feliz, “será
que esse bebê é meu filho?”
Ela
não tinha como saber, mas imaginou que a resposta fosse positiva, pois
ela sentia algo inexplicável – ternura, carinho – pela criança. E
pelo homem também. Amor. Dois sentimentos tão iguais e tão
diferentes.
De
repente, o quadro da família feliz tornou-se ainda mais embaçado e
transformou-se numa noite escura. A abóbora esculpida num sorriso torto
fez Lílian perceber que dia era: Halloween. Uma pequena passagem de
tempo, e Lílian sentiu um terror jamais sentido antes, ódio, amor,
raiva, compaixão, rancor, perdão, tudo ao mesmo tempo.
Medo.
“O
Harry não, o Harry não, por favor o Harry não!”
Desespero.
“Afaste-se,
sua tola... afaste-se agora...”
Amor.
“O
Harry não, por favor não, me leve, me mate no lugar dele...”
Desespero.
E as gargalhadas do inimigo, da criatura que queria matar seu filho,
sim, era seu filho, a criatura que queria matar Harry ia gargalhando
maliciosamente, assustadoramente, e o desespero ia crescendo, crescendo
dentro de seu peito...
-
EVANS!
E
aí acabou-se, não lembrou-se de mais nada, e acordou com aquela angústia
no peito, como se alguém tivesse morrido mesmo de verdade. Lílian nem
reparara que tinha adormecido novamente ao que tentara lembrar-se do
sonho...
Ela
abriu os olhos e deparou-se com a figura atônita de Tiago Potter, com
as mãos nos ombros dela, sacudindo-a. Ela olhou para ele, seus olhos
verde-esmeralda arregalados fitavam os olhos castanhos através da lente
dos óculos dele.
-
Que foi, Potter? Não se pode nem mais cochilar...
-
Cochilar? Lílian, você estava...
“Lílian,”
ela pensou, “há quanto tempo ele não me chama de Lílian... faz mais
de dois anos, mas... isso não está certo.”
-
Evans – corrigiu-o.
-
Evans, você estava chorando...
-
Chorando? Eu? Há há.
Ele
fitou-a, sério, e ela percebeu que não era momento para rixas e olhou
para o chão, envergonhada.
-
Eu tive um sonho... estranho.
Ele
sentou-se ao lado dela, com o braço em volta das costas dela, meio que
consolando-na. Ela encostou a cabeça no ombro dele, como nos velhos
tempos, e dessa vez chorou baixinho.
-
Shhhh. – ele murmurou, apertando mais o braço dela com os seus, que
lhe atravessavam as costas – Já passou, foi só um sonho.
Ela
balançou a cabeça resoluta.
-
Mas era tão real... e o Harry? Onde está o Harry?
Tiago
olhou para ela interrogativamente.
-
Harry? Quem é Harry?
Ela
sorriu, sentindo o gosto salgado das lágrimas que lhe corriam o rosto.
-
Meu filho...
-
Lílian? Você andou bebendo? Você não tem filho nenhum!
Ela
soltou-se do abraço dele, como num choque, e ficou do lado oposto do
sofá. No espaço que havia entre os dois, uma terceira pessoa podia
sentar-se. Lílian balançou a cabeça resolutamente.
-
Foi um pesadelo. – disse, enxugando a última lágrima – Só isso. Já
passou. Mas é que o Harry era tão real...
Tiago
sorriu.
-
Você pensa em ter um filho chamado de Harry?
-
Eu sempre pensei em Henry, mas agora acho que Harry é mais jovial...
soa melhor para uma criança.
-
As crianças crescem...
-
Minha mãe sempre diz que para os pais, os filhos são sempre crianças.
-
Mãe é tudo igual. A minha diz a mesma coisa.
E
riram. E quando pararam de rir, estavam um olhando para o outro,
sentindo-se desconfortáveis. Tiago ajeitou-se melhor no seu lado do sofá
e olhou para os lados, desviando o olhar. Lílian olhou para o chão. O
silêncio era incômodo, e eles permaneceram assim por um tempo incontável.
Quando, de repente, viraram-se, fitaram-se e disseram, ao mesmo tempo,
um o nome do outro.
Coraram
e viraram o rosto de novo. Tiago virou-se novamente em direção à Lílian,
esticou o braço e ajeitou uma mecha de cabelo atrás da orelha dela.
-
Lily, eu...
-
Ahá! – uma voz que não pertencia nem a Lílian e nem a Tiago
exclamou – Se não é a hipócrita da Evans que não pára de gritar o
seu ódio ao famoso Tiago Potter, toda derretidinha...
Lílian
sentiu-se ficar escarlate, mas não de vergonha. Raiva.
-
Waltham!
Tiago
também parecia estar irritado.
-
Como você me explica isso, Tiago Potter? – Heather perguntou,
visivelmente aborrecida.
-
Heather, Heather... será que não percebe que as coisas mudam? –
perguntou num tom irônico.
-
Não me venha com esse papo de que não é o que parece ser, Tiago. –
Heather prosseguiu.
-
De modo algum, - ele falou – É exatamente
o que parece ser.
Ele
virou-se para Lílian, que fitou-o de volta com uma expressão de
“Que? Quando? Onde?”. E não pensou em mais nada, porque Tiago
inclinou-se e a beijou.
Heather
soltou uma exclamação de raiva.
A
primeira reação de Lílian foi dar soquinhos nas costas dele e tentar
empurrá-lo, o que, conforme a resistência dele foi diminuindo, ela
logo conseguiu.
-
Agora, Heather, querida, você tem alguma dúvida do que viu? –
perguntou Tiago, tomando fôlego – Vá logo espalhar para Hogwarts
inteira que eu e Lílian estamos namorando.
Lílian
estava estupefata, sem palavras. Antes, ela estava pensando em dar um
belo tapa na cara de Tiago, mas agora... o tapa, Heather Waltham, tudo,
menos Tiago, parecia ter sumido do mundo dela, e ela se viu no meio das
nuvens, sem saber o que pensar ou o que dizer quando um turbilhão de
pensamentos invadiu sua cabeça e ela também não soube mais o que
pensar. Só olhava, como em
piloto automático, para o rapaz, com uma expressão perplexa de choque.
Lílian,
se tivesse tido a oportunidade, teria ficado muito contente com a cara
que Heather fez, e o gritinho histérico que ela deu ao correr para o
dormitório feminino.
-
Lílian, - Tiago começou.
-
Potter...
Eles
se encararam, e os pensamentos finalmente foram filtrados na cabeça de
Lílian e ela ficou vermelha de raiva.
-
Potter, você não tinha o
direito...
-
Escuta, não foi a intenção. No momento, eu teria beijado até o Snape
para tirar aquela chata do meu pé.
Lílian
não esperava que isso tivesse acontecido, mas em algum lugar, bem no
fundo, ela ficou desapontada.
-
Que você beijasse o Snape, mas não a mim! – exclamou num tom ríspido
– E a burra aqui ainda pensou em uma trégua! Você continua o mesmo,
Potter, acha que as pessoas são bonequinhos nas suas mãos!
E
virou-se, preparada para regressar ao dormitório, mas Tiago a segurou
pelo pulso, e ela virou, com uma cara muito brava.
-
Me desculpe.
Tiago
Potter era um garoto educado, já havia pedido desculpas milhares de
vezes antes, assim como Lílian também tivera. Mas dessa vez, o tom
dele indicava verdadeiro remorso. Talvez não só pelo beijo, mas também
pelo modo com que ele a tinha tratado anos antes, quando ainda eram
amigos. Talvez tudo fosse imaginação de Lílian, mas fosse o que
fosse, ela desvencilhou-se da mão dele e saiu correndo do mesmo jeito
para o dormitório feminino do último ano.
Tiago
permaneceu no Salão Comunal Grifinório, onde não havia uma alma viva
senão a dele próprio. Já eram seis horas da manhã, e mais cedo ou
mais tarde, mais gente desceria.
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