Solitários - Capítulo 9 - Dumbledore Entra em Cena
Capítulo 9 - Dumbledore Entra em Cena
 
 
No final do café, uma nuvem de corujas surgiu no salão principal, e, para espanto de todos, pela primeira vez, um berrador caiu no colo de Draco. Ele estava sorrindo para Gina, que havia se sujado toda com o açúcar que cobria as rosquinhas de morango, quando o envelope vermelho aterrizou, das garras da coruja negra de seu pai.
- Dra... Draco... - ela murmurou, constrangida. Já podia imaginar o que o berrador dizia, e o envelope já começara a soltar fumaça. Ele teria de abrir.
- Tudo bem Gina, nada de tão mal pode me acontecer... eu já estou sendo o centro das atenções hoje... - Draco respondeu, com a voz arrastada, enquanto sentia os olhos do salão todo sobre o envelope sendo aberto.
Com um barulho de tecido rasgado, o berrador saltou das mãos de Draco, enquanto Neville tampava os ouvidos e se escondia sob a mesa, e Harry, Ron e Mione olhavam ansiosos para saber o que o papai Malfoy achava de Gina Weasley.
- Se aquele podre falar o nome da minha irmãzinha.... - murmurou Rony, enquanto Harry o acalmava dizendo que nem mesmo Lucius Malfoy poderia dizer algo mal de Gina.
Então aconteceu. O berrador começou seu discurso na voz grossa e ameaçadora de Lucius, enquanto todos os alunos se encolhiam em suas cadeiras, e Draco agüentava firmemente.
 
" VOCÊ ENVERGONHOU A FAMÍLIA INTEIRA, OS QUADROS NÃO FALAM DE OUTRA COISA, E SUA MÃE DEVE ESTAR SE REVIRANDO NO TÚMULO..."
 
Ao ouvir isso, Harry teve um calafrio. A mãe do Malfoy morreu??? Pansy Parkinson soluçou. Ela morreu? Então foi por isso que ele me largou... porque se ela... Crabbe e Goyle se olharam, assustados, e Gina observava Draco, cada vez mais pálido.
 
" ... E FALANDO EM FAMÍLIA, SAIBA QUE VOCÊ NÃO TEM MAIS UMA. CONTENTE-SE COM AS COISAS QUE ESTÃO COM VOCÊ AI EM HOGWARTS. VOCÊ NUNCA MAIS VAI POR OS PÉS NA MANSÃO!"
 
Houve um suspiro que correu todo o salão. E Gina achou que Draco ou iria desmaiar de tão pálido, ou ia quebrar seus dedos, que estavam apertados entre suas mãos sob a mesa.
 
" VEJA SE TEM UM LUGAR PRA VOCÊ NA CASA PODRE DA SUA NAMORADINHA WEASLEY, PORQUE ELA É TUDO O QUE VOCÊ TEM AGORA, ESQUEÇA QUE TEM UM PAI, E SE ALGUÉM PERGUNTAR SE VOCÊ É PARENTE DOS MALFOY, DIGA QUE É DE UM RAMO AFASTADO DA FAMÍLIA, PORQUE NENHUM MALFOY VERDADEIRO TERIA QUAISQUER TIPO DE RELAÇÕES COM UM WEASLEY! COM ALGUÉM DA GRIFINÓRIA! ALGUÉM AMIGO DO ... HARRY POTTER!!!"
 
Com um estouro baixo, o envelope se transformou num montinho de pó. Todo o salão olhava atento para Draco, que parecia petrificado por um basilisco.
- Você esta bem, Draco....? - perguntou Gina, totalmente chocada com o que acabara de ouvir: Draco fora expulso de casa e da própria família por sua causa?
- Ah, sim, muito bem. Eu tenho bastantes casacos no armário. E acho que tem um pijama reserva também. - ele disse, numa voz quase inaudível.
Ela correu a mão no rosto dele, que suava frio nas têmporas. Draco olhou bem dentro dos olhos de Gina e disse, num sussurro: E agora, o que eu vou fazer da vida?
 
*****
 
Após o show do berrador de Draco, Harry olhou para Rony e falou:
- Poxa, imagine! Ser expulso de casa por namorar sua irmã...
- Ela vale a pena, tá bom - resmungou Rony, que ainda achava que Harry ia ser tão melhor para sua Gina... e ainda por cima o Malfoy não tinha nada alem das coisas que estavam na escola! Não tinha para onde ir nas ferias! - E ele pode tirar o cavalinho da chuva se acha que vai morar la em casa... ah, não vai não...
- Mas Ron, ele não tem pra onde ir.... - disse Mione, apreensiva.
- Você esta insinuando que o crápula do Malfoy alem de dar em cima da minha irmã tem o direito de morar sob o mesmo teto que ela, e eu! E toda a minha família!?!
- Não sei Ron, mas morando em Hogwarts é que ele não vai ficar, né?
- Bem que podia ser...- murmurou Harry, que já tinha marcado uma reunião a tarde com o Prof. Dumbledore para pedir para passar as ferias de verao em Hogwarts também. - Alias, melhor não.... - Harry murmurou, imaginando Draco e ele, sozinhos, o verão todo, no castelo.
Mas nem Hermione nem Rony ouviram seus resmungos. Eles estavam ocupados demais observando Snape se aproximar da mesa da Sonserina e sussurrar algo para Draco enquanto Gina parecia incrivelmente interessada em seu café.
Assim que o vulto obscuro de Snape deixou o salão, e os alunos começaram a se encaminhar para suas aulas, Gina beijou novamente Draco, e Harry pode escutar, enquanto a dupla pálida se aproximava, ela desejando boa sorte ao Malfoy.
Assim que Draco fez a curva no fim do corredor, Rony, Hermione e Harry correram para junto de Gina, e perguntaram ao mesmo tempo como ela estava.
- Ah... hmm... bem, eu... eu tenho que ir pra aula de ... pra aula. - ela parecia muito confusa e excitada. - E Harry, o Snape pediu pra eu lhe dizer que o Prof. Dumbledore quer falar com você agora, e não mais à tarde.
Ela virou as costas e correu atrás de Colin. Quando Hermione e Rony se viraram para Harry para perguntar o que ele tinha que falar com o Dumbledore, viram apenas o vulto do garoto fazer a curva no mesmo corredor onde Draco entrara havia alguns instantes e ouviram-no resmungar: Não seja isso, por favor... Deram de ombros e seguiram para a aula de Defesa Contra as Artes das Trevas.
 
*****
 
Draco estava sentado na porta do que ele imaginava ser o escritório de Dumbledore. Pelo menos, fora onde Snape mandara-o esperar o diretor, para ter uma conversinha muito importante. Ele ainda não tinha absorvido tudo que acontecera nas últimas horas. Ele fora do céu ao inferno nesse último dia.
Como era possível a felicidade arrebatadora de ter Gina em seus braços conviver com a indignação de não ter uma casa, uma família... um lugar pra ir... algo... algum... algum objetivo...
E foi em meio a esses pensamentos que Harry Potter surgiu, como um elefante enfurecido, batendo os pés no chão do corredor, em sua direção.
- Que é isso, Potter? - riu Draco. - Até parece que foi expulso de casa, ah.. é... fui eu, não você!!!
- Como você pode fazer brincadeira com isso, Malfoy? - Harry perguntou, meio querendo rir, meio irritado com a situação.
- É o meu jeito de encarar as coisas, Potter. Mas você não precisa fingir de amiguinho e vir atrás de mim porque eu namoro a Gina.
Harry esboçou um sorriso de desprezo.
- Eu? Atrás de você? Eu vim foi falar com o Dumbledore. - e virando-se para a tapeçaria em que Draco estava apoiado, murmurou: Carpe Diem. E Draco caiu no início de uma escada em espiral que, seguindo Harry, o levou para uma sala onde Dumbledore parecia muito distraído pingando óleo numa máquina que parecia uma cruza de relógio com um daqueles brinquedos trouxas... patins.
 
- Professor Dumbledore, estou aqui. - disse Harry, muito menos chocado que Draco, afinal, ele era o monitor da Grifinória e mesmo antes disso, já tinha estado no escritório de Dumbledore e visto seus brinquedos de prata incontáveis vezes.
- Eu também... - murmurou Draco, querendo fazer-se presente.
- Eu sei, garotos, eu sei... - disse o velho diretor, calmamente, enquanto se virava para a dupla estática. - Mas sentem-se.
Eles viram surgir do chão um confortável divã, onde, a uma distancia segura, sentaram-se um ao lado do outro.
- Bem, Harry, você já deve imaginar porque eu chamei vocês dois aqui, depois do incidente com o Sr. Malfoy no café da manhã... - Draco e Harry coraram. -Então, por favor, diga ao Draco porque você está aqui.
- Eu... eu... eu vim pedir para passar as férias de verão aqui também... - Harry disse, enquanto os olhos cinzentos de Draco se arregalaram.
- E você, Draco, tem algum lugar para passar as férias de verão? - perguntou Dumbledore, calmamente.
- Não... não senhor, o senhor também ouviu... - ele disse, a cabeça baixa, os olhos se enchendo de lágrimas.
- E a minha resposta para vocês dois é a mesma... - falou Dumbledore, enquanto Harry tentava decidir o que era pior: viver com os Dursleys, ou com Draco Malfoy. - ... vocês podem sim, permanecer no castelo. Harry, seus tios já foram avisados e suas coisas que estavam lá já foram enviadas para Hogwarts. - E apontou para uma mala velha e rasgada, quase vazia, num canto da sala.
 
Harry se levantou e abriu a mala, que tinha uma nota do tio Válter, Até que enfim!!!, uma bola de tênis meio destruída, que ele usava para prender a porta do velho guarda roupa, e alguns trapos imundos que ele reconheceu como suas roupas.
- E quando as férias começarem, senhores, vocês irão ficar no mesmo dormitório, para poupar o trabalho do Sr. Filch na limpeza...
- O que??? - gritou Draco. Morar com o Harry Potter já é o cúmulo, mas dormir com ele!?
- Isso mesmo. Há um dormitório fora das torres das casas, para duas pessoas, e é esse que vocês vão ocupar. - disse Dumbledore, no mesmo tom de voz. - Agora vocês podem ir para suas aulas. Harry, deixe que eu cuido da sua mala.
Dumbledore tocou a mala surrada dos Dursleys com a varinha, e ela desapareceu. Draco levantou-se e saiu, seguido logo por Harry.
*****
 
Separaram-se dois corredores à frente, e, enquanto o Prof. Lupin terminava de explicar os feitiços protetores contra pragas do sono, Rony cochichou
- Poxa, não sei se eu fico feliz por ter me livrado do Malfoy, ou triste por ele ficar com você...
- Não fique nada. - disse Harry, à meia voz. - Eu mesmo não sei o que pensar.
 
*****
 
- Morando em Hogwarts?
- Que? O Harry Potter e o Draco Malfoy?
- Juntos?
- A Weasley vai morar aqui também?
- Eu soube que ela tá grávida e não sabe de quem...
 
 
Dezenas de fofocas, reais e inventadas, correram como um rastilho aceso de pólvora por toda a escola antes do almoço. E culminaram com um pronunciamento do próprio Dumbledore, antes de começarem a comer, no salão principal.
- Atenção, todos. Srs. Potter e Malfoy, Srtas. Weasley e Parkinson, venham até aqui. - Dumbledore disse, parecendo contrariado.
Harry levantou da mesa da Grifinória, enquanto Gina e Draco saíram juntos de uma ponta da mesa da Sonserina e Pansy, da outra.
Os quatro postaram se à frente da mesa principal, e Dumbledore ordenou que virassem de frente para o salão. Lado a lado, Harry, Gina, Draco, e , um pouco distante, Pansy, encararam o salão silencioso e coraram.
- Vamos lá então. Eu irei perguntar e vocês responderão... - disse Dumbledore, agora com um sorriso. - Vamos acabar com essa história de que Hogwarts virou um hotel, ou que eu sou pai de Harry e Draco e eles vão morar comigo.
Alguns riram. Todos fixaram o olhar em Dumbledore, que se levantou e ficou à frente de Harry.
- Harry, você vai morar em Hogwarts de hoje em diante? - Harry, você vai morar em Hogwarts de hoje em diante?
- Sim, senhor.
- E você, Draco?
- Sim.
- Gina?
- Não.
- Pansy?
- Não.
- Harry e Draco, vocês vão dividir um dormitório?
- Infelizmente sim - responderam juntos, enquanto o salão ecoava risadinhas.
- A Srta. Weasley ira dividir esse dormitório?
- Não! - disse Gina, prontamente.
- A Srta. e o Sr. Malfoy casaram-se em segredo ontem?
- Não... - Draco riu
- Não mesmo...- disse Gina, lembrando da noite anterior.
- Srta. Parkinson está grávida, morta, ou casada com Draco Malfoy?
- Não mesmo. Não. Infelizmente não. - ela disse, num sussurro.
- Mais alguma pergunta? - disse Dumbledore ao povo observador do salão. Colin levantou a mão, timidamente. - Sim, Colin?
- A Gina tá grávida e não sabe de quem?
- Não mesmo, Colin, seu tapado!!! - Gina gritou.
Todos riram. Dumbledore disse que o assunto estava encerrado. Almoçaram. Passou se uma semana até que parassem de resmungar sobre Draco e Harry morando juntos.
*****
Gina e Draco sempre comiam juntos, por vezes na mesa da Grifinória, sem que ninguém reclamasse. Hermione era particularmente simpática com o casal, apesar de evitar Draco sozinho. Ela tinha pena da situação de sem lar, e admirava que ele agüentasse aquilo tudo por Gina.
Harry às vezes cumprimentava Draco, principalmente quando lembrava que ele não tinha mãe... nem pai. Rony preferia ignorar tudo, a presença de Draco à mesa, o namoro com Gina, e mesmo as indiretas da irmã sobre uma possível visita de Draco nas férias. Pansy continuava a se esgueirar pelos cantos, como uma sombra, e os outros Sonserinos se recusavam a falar com Draco.
Gina jamais estivera tão feliz. Draco começara a se sentir livre. Mais uma porção de vezes eles usaram o salão de inverno. No último dia de aula, Gina prometeu escrever todos os dias, e convencer a família a aceitar uma visita de Draco. Draco pegou Pandora e suas coisas e levou para o dormitório que dividiria com Harry. Hermione e Ron estavam se despedindo dele. Na saída, Hermione piscou, como que desejando boa sorte a Harry, e, para surpresa geral, Rony olhou para o canto onde Draco estava colocando sua gaiola e disse:
- Espero que você faça a minha irmã feliz, Malfoy. Na metade de agosto o Harry vai lá em casa e você pode ir junto. Surpresa pra ela. Se você se comportar bem, e o Harry te ensinar umas coisinhas nas férias, talvez eu te cumprimente de manhã.
E saiu da sala, puxando Hermione pela mão.
- Enfim sós - disse Draco, caindo na cama.
- Eu, hein, Malfoy - exclamou Harry, olhando duvidosamente para Draco.
- Estou falando com a cama, Potter, não se meta.
Esse vai ser um verão longo... pensou Harry, deitando na cama também. Ele não percebeu que Draco estava chorando, o rosto afundado no travesseiro. Uma vida nova... não vou mais fingir... eu tenho a Gina... não preciso ir pra casa... não tenho casa...
Tec. Oi Querido, só queria dizer que eu te amo! Ele ouvi a vozinha de Gina ecoando na sua cabeça. Também te amo, Gin! Tec.
Naquele verão muitas coisas mudaram, o mundo se refez para Draco. E Harry descobriu que apesar de ser chato, irônico e sacana, mesmo Draco tem um coração.
 
 
~* Fim *~

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