Era o sexto ano de Harry Potter em Hogwarts, assim como o de
Hermione Granger, Rony Weasley e... Draco Malfoy. Gina Weasley
estava em seu quinto ano, por ser um ano mais nova que seu irmão
Ron.
E era essa garota, Gina, que caminhava, sozinha como sempre,
pelos jardins da escola. Era o fim do verão, e havia anoitecido
há pouco tempo. Sob o céu escuro, com algumas rajadas de
alaranjado, ela caminhava devagar, contornando o lago negro.
Gina, apesar de ser irmã de Rony, que tinha vários amigos e de
Fred e Jorge, conhecidos em toda a escola, era muito sozinha.
Realmente, depois de alguns problemas em seu primeiro ano, ela
havia se afastado ainda mais de multidões e desconhecidos,
permanecendo tímida e solitária. Sempre que não tinha aulas,
gostava de caminhar pelos arredores da escola no pôr-do-sol, e
voltar apenas na hora do jantar... alias, estava na hora de entrar
no salão... mas ela não estava com fome, e, dificilmente alguém
sentiria a sua falta, então, Gina decidiu continuar caminhando ao
redor do lago.
Foi então que ela ouviu um murmúrio fantasmagórico vindo de
uma moita logo adiante. Assustada, ela levantou a varinha e disse:
'Lumos!'. Caminhando devagar, ela se aproximou e encontrou um
vulto encolhido entre os arbustos mais afastados do lago. Foi até
lá, cautelosamente, e abaixou a varinha, de modo que iluminasse o
vulto. Era uma pessoa. Loira. Chorando. Draco Malfoy.
Havia terminado de escurecer quando Draco ouviu passos, mas não
houve tempo de correr, a pessoa já estava com a varinha acima de
seu rosto. Era a menina Weasley. Ele secou rapidamente os olhos
cinzentos, e foi com pavor que encarou o rosto absorto de Gina.
- Ma... Mal... Malfoy? – Ela murmurou.
- Sim... o que foi, Weasley, perdeu alguma coisa aqui? –
perguntou,
tentando parecer insolente.
- Você está bem?
- Porque você quer saber? Desde quando você se importa com
malvado Malfoy? – Ele levantou os olhos avermelhados e encarou
Gina, que olhava para baixo.
Ambos disfarçavam, mas não sabiam o que fazer. Draco estava
apavorado com a possibilidade de alguém descobrir que ele, o
garoto forte e cruel da Sonserina estava chorando feito uma
menininha numa moita. Gina estava chocada, afinal, Malfoy?
Sozinho? Chorando?
- Você estava chorando, Malfoy? – Ela falou, rapidamente,
antes que perdesse a coragem.
- Claro que não! Não.. hmm... um pouco.. sim, porque?
Ela sentou devagar, ao lado de Draco, apalpando o chão úmido
antes de perceber que ele estava esticando sua capa no chão, para
que ela não sujasse as vestes. Ela agradeceu com um movimento de
cabeça e encostou-se na moita mais próxima.
- Bem, Gina... não é?
- Sim, Malfoy.
- Eu.. estava.. testando.. é! Testando um novo feitiço, mas...
- Malfoy, não minta. O que aconteceu? Eu não tenho nenhum
amigo para quem contar e não teria alegria alguma em rir de você
ou da sua situação. Eu sei que você me odeia, e a toda a minha
família, mas o meu jeito é esse e eu quero saber o que houve com
você.
- Mais algumas lágrimas escorreram pelo rosto pálido de Draco.
Num instante de pasmo, ele se arremessou contra Gina e a abraçou,
soluçando nos braços da garota, que, assustada, ainda não
acreditava no que estava acontecendo.
- Sabe, às vezes é tão difícil agüentar tudo... eu não
queria que alguém visse, vim pra cá, nunca aparecem nesse
canto...
- Eu sempre venho caminhar no lago. – Ela respondeu,
semi-sufocada pelo corpo forte de Draco.
- É, eu te vi duas ou três vezes, mas nunca chegou aqui perto
– disse Draco, num sussurro longínquo.
Ele se separou de Gina, tirou a parte do cabelo que pendia na
frente dos olhos, e deu um pequeno sorriso para ela. Os olhos dele
ainda estavam cobertos de uma névoa fina, e o frio da noite unido
àquela visão pálida fizeram com que Gina tivesse um calafrio.
- Tome, disse ele, esticando o casaco que usava sob as vestes.
– Tem o emblema da Sonserina, mas acho que você não vai ligar
à essa hora, não é?
- Claro que não, ela respondeu, sorrindo. Pensou: 'Se me
tivessem dito à duas horas que eu estaria sentada com Draco
Malfoy ao anoitecer, usando o casaco da Sonserina... eu riria até
explodir... e no entanto, nada parece mais natural...'
E veio o silêncio. Quando duas pessoas solitárias se
encontram, não são necessárias muitas palavras para saberem que
podem confiar uma na outra.
- Malfoy, porque você estava... hmm..
Os olhos dele se encheram de lágrimas novamente. Ele esticou um
pergaminho fino, amassado. Ela começou a ler.
"Draco,
Acabei de receber uma coruja, vinda dos Alpes. Você sabe, onde
Narcissa estava passando o inverno. Mas houve uma avalanche, e os
5 outros bruxos que estavam com ela não conseguiram escapar. Nem
ela. Não encontraram os corpos. Ainda.
Quando tiver mais notícias, mando outra coruja e você poderá
vir.
- Você não entende Weasley. Eu estou assim porque não sinto
nada. Não vou sentir falta dela... ela nunca foi minha mãe...
- Como assim – ela perguntou, atônita – você é adotado?
Ele deu um sorriso amarelo.
- Antes fosse... você não imagina o que é isso... você,
cheia de irmãos.. e seus pais.. eu já vi como eles são com
vocês... o monte de corujas que recebem nos feriados...
- Mas você também recebe várias corujas... e presentes mais
caros que os meus, com certeza – ela acrescentou, sorrindo,
enquanto colocava o cabelo úmido de Draco atrás da orelha dele,
audaciosamente.
Ele levantou o rosto, brilhante de lágrimas. Ela viu os lábios
dele se abrirem devagar, então ele fechou a boca novamente.
Engoliu em seco. Poderia confiar nela? Respirou fundo. Conto sim.
- Eu encomendo pelo reembolso-coruja... me auto dou presentes...
e mesmo no meu aniversário, ninguém lembra, nem mesmo Crabbe e
Goyle, nem a chata da Pansy.
- Sinto muito... – disse Gina, sem saber ao certo o que falar.
Os olhos de Draco passaram de nebulosos à injetados num
instante... ele ficou de pé e olhou para baixo, o rosto assustado
da garota.
- Sente muito? Sente nada! Nem você, nem seus amiguinhos se
importam! Só querer rir e cochichar do Malfoy. Ah, como ele é
estúpido. Ah, como joga mal quadribol. ...
- Se é isso que você acha, Malfoy – disse Gina, levantando
rapidamente – então engula esse casaco e essa capa maldita!
Você fala como se soubesse tudo sobre mim. Se eu tivesse amigos
não estaria andando por um pântano nojento pra achar você
encolhido!!!
- Viu? Já começou a brigar. Qual é o próximo passo? Correr
pra sua torre e gritar do meio da sala comunal que Draco Malfoy
perdeu a mamãe e esta chorando no quintal???
Ele fez menção de seguir o caminho para o castelo, juntando
capa e casaco. Ela agarrou o braço dele, o que fez com que Draco
se virasse e seus rostos ficassem a um palmo de distância.
- É esse o seu jogo, Malfoy? – ela gritou, olhando dentro do
cinza frio dos olhos de Draco.
- O que? Que jogo? Você está louca?
- Não estou não, e se você acha que eu vou cair na história
do mal-humorado malvado, pode tirar o cavalinho da chuva!
Ele apoiou a nuca de Gina em sua mão direita, empurrando-a
em direção à sua boca e murmurou Me ajude...