Ela abraçou-se ao corpo quente de Draco, enquanto começava a
chover, fininho. Os dois estavam chorando.
- O que foi, Weasley?
- O que foi, Malfoy?
- Eu acho que sou a pessoa mais sozinha do mundo - Gina
soluçou
- Não é, porque essa pessoa sou eu - respondeu Draco, num
sussurro.
Eles separaram os corpos, Malfoy disse:
- Eu preciso conversar com alguém, Weasley, pode ser você?
- Com duas condições: Se você me chamar de Gina, e eu poder
conversar com você, Malfoy..
- Então me chame de Draco, e vamos entrar antes que a chuva
engrosse.
Nesse instante, por causa de um relâmpago, Harry Potter
olhava pela janela, e reconhecia, pelo clarão, os cabelos de
fogo de Gina, e o odiado reflexo de prata de Malfoy. Ele acordou
Rony, com certa dificuldade, e desceram ambos para o Hall de
Entrada.
A grande porta se abriu. Molhados e cobertos pelo casaco da
Sonserina, Gina e Draco entraram abraçados. Rony gritou:
- Tire as mãos da minha irmã seu trouxa!!! - e puxou
violentamente, sob protestos, Gina para perto de si - Ele te fez
alguma coisa? Te jogou um feitiço?
- Rony! Me larga! Eu só estava conversando com o Draco e..
- Draco??? - perguntaram Harry e Rony ao mesmo tempo
- É o meu nome, não sabiam? - disse Draco, asperamente, com
o sorriso de desprezo, especialmente preparado para Harry
Potter.
- Você chamou esse crápula sujo e idiota de Draco? - gritou
Rony, cuspindo enquanto falava apressado.
Harry empurrou Draco para longe de Gina, enquanto Rony a
arrastava pelo corredor, em direção ao quadro da mulher gorda.
- Que é isso, Potter? Dando uma de violento? - sorriu
ironicamente Malfoy, enquanto se livrava das mãos de Harry.
- Cala a boca Malfoy. O que você fez com ela? - disse Harry,
empurrando Draco contra a parede
- Eu - não - fiz - nada! Ou você acha que eu preciso fazer
alguma coisa para as mulheres correrem atrás de mim?
- Malfoy, a Gina é minha amiga e você não vai encostar mais
um dedo nela!
- Certeza Potter? É sua amiga? Pergunta o que ela prefere:
ficar aqui no quentinho com você e o roniquinho ou ficar comigo
na chuva! Adieu Potter, já gastei muito tempo com você. - e
saiu rumo às masmorras: o dormitório dos Sonserinos.
Potter foi atrás dele, mas depois de duas curvas em
corredores escuros só ouviu um sussurro: buraco de minhoca.
Logo, os corredores só ecoavam os seus passos, indo para a
torre da Grifinória.
- Gina, é a última vez: O que você estava fazendo com o
Draco Malfoy, que tentou matar a gente, prender o Hagrid em
Azkaban e demitir o papai?
- Também é a minha última vez Rony!!! Eu estava
CON-VER-SAN-DO com ele.
- Harry, eu acho que ele jogou alguma coisa nela...
- Ron, não sei não... - disse Harry, olhando Gina de cima a
baixo.
- Olha aqui, Gina. Você está molhada e eu quero que você
vá tomar um banho e vá dormir, e amanhã você vai me explicar
direitinho essa história de se encontrar com o Malfoy de noite.
- resmungou Rony, entre dentes.
- Cala a boca Rony - resmungou Gina, se livrando do irmão e
correndo para o dormitório feminino.
Rony e Harry se entreolharam
- Sabe Rony, vai ver eles estavam só conversando mesmo...
- Conversando? A minha irmãzinha e o bolha do Malfoy? Só por
cima do meu cadáver!!!
E entraram no dormitório masculino.
Gina estava chorando no chuveiro feminino da Grifinória,
Draco no chuveiro masculino da Sonserina. Apenas 300 metros de
distância entre os dois, e uma tristeza que os unia cada vez
mais.
"A gente nunca mais vai poder conversar..." Pensaram
os dois ao mesmo tempo. Tiveram um calafrio.
Gina. Ela olhou assustada para o banheiro vazio. Gina, é o
Draco. Ela fechou o chuveiro e vestiu o robe rapidamente.
Draco?, ela pensou. É, sou eu. Eu estou usando um feitiço de
comunicação, que bom que você quer falar comigo. Ela olhou ao
redor. Como assim? Como você pode saber? ela ouviu uma risada
abafada, Bã, porque senão o feitiço não funciona...
Você pode me ver?
Não, só posso ouvir? Porque, você está pelada?
Gina corou. E se estivesse?, ela riu
Eu quero te ver, Gina, quero falar de verdade com você.
Eu também Draco, mas como, quando?
Que tal agora?
Mas se os meninos me pegarem, eles me matam e te matam!
Mas eu preciso de você... Gina estremeceu, era a primeira vez
que diziam isso para ela. Preciso de você.
Tá bom, eu vou me vestir e a gente se vê...
Vestir?! Então você estava mesmo pelada.. hehehe
Para Draco! Te espero no salão de inverno, do lado do salão
de jantar.
Tá bom, até querida!
Querida?
Desculpa. Até lá Gina!
Ela ouviu um estalo e então sentiu a cabeça ficar mais leve,
Draco havia desconectado. Ela se secou e vestiu uma muda de
vestes secas e limpas, silenciosamente. Só faltava a Hermione
acordar e chamar os heróizinhos.... ela pensou.
Draco estava vestindo uma camisa preta quando pensou: E se ela
contar pra todo mundo...? Não, ela é igual a mim... eu sei..
eu sinto.. com ela, só com ela eu posso ser eu mesmo. Calçou
as pantufas de abóbora, chacoalhou o cabelo molhado com as
mãos , e desceu as escadas.
Ela estava lá. Sentada em frente à lareira sempre acesa. E
as pantufas....!
- Eu não pensei que mais alguém tivesse esse tipo de
pantufa, murmurou Draco, enquanto ela olhava os pés, as
pantufas alaranjadas sobre o velho sofá.
- Eu também não achava..., ela sorriu e bateu no sofá, ao
lado de onde ela estava, acenando para que ele se sentasse.
- Gina... eu.. eu me sinto tão sozinho, desde que nasci,
criado pelos empregados... que são... fantasmas.. não
acreditava, até te encontrar, que alguém pudesse se interessar
por mim, ou por qualquer outra pessoa, sem querer nada em
troca...
- E eu, Draco, criada na multidão, e ainda assim, sozinha.
Cercada de incompreensão, amigos dos conhecidos, que nunca
perguntam como eu vou, se estou bem, se quero ir junto. Alias,
quando quero ir.. me ignoram...
Ele segurou a mão de Gina, com a ternura que guardara a vida
toda, e que a odiosa Pansy não conseguira arrancar com seus
beijos cheios de baba.
- Posso? - ele perguntou, apontando pada o colo dela
- Claro, Malfoy.. - Gina sorriu
Ele pousou delicadamente a cabeça no colo de Gina, olhando o
rosto suave dela. Ela olhava o semblante pálido de Draco. Ele
abriu os lábios. Suspirou.
- Sabe, eu nunca achei que fosse encontrar alguém como
você...
- E eu nunca imaginei que você fosse assim. - ela comentou,
acariciando os cabelos ainda úmidos de Draco, prateados..
dourados.. lindos..
- Ah, então você também acreditava no meu teatro? É bem
fácil, é só responder o que ninguém quer ouvir...
- E eu respondo o que todo mundo quer ouvir, e mesmo assim...
Ele olhava para o rosto de Gina, iluminado pelo crepitar da
lareira.
- Gina, você não se incomoda se eu continuar fingindo, né?
- Como assim?, perguntou ela, confusa.
- Você sabe, se alguém desconfiar que eu ando falando com
você, eu nem quero imaginar o que vão dizer de mim...
- O que??? Você tem vergonha de mim, Malfoy?, perguntou Gina,
empurrando a cabeça de Draco para cima, para longe de seu colo.
- Calma, é só porque.. porque.. eu sou mau, entende?
- Não! Bem que o Rony me falou.. você só queria se
aproveitar de mim, abracinho, colinho.. e agora o que? Finge que
não me conhece?
- Gina, pare!!! - exclamou Draco, enquanto segurava os braços
dela, pressionando-a contra o encosto do sofá. - Você sabe que
eu estou enebriado de encontrar você, mas eu não posso assim,
de repente, abrir mão do que eu construí, até hoje!
- E construiu o que? Meia dúzia de servos e dezenas de
inimigos?
- É, é isso, mas pelo menos me respeitam - conclui Draco,
falando baixinho.. - É só eu lançar um olhar desdenhoso, que
ninguém me pergunta nada e não descobre nada...
- Você quer se esconder do mundo? - Ela soltou as mãos dele
dos braços dela. - Então se esconda mesmo, até de mim! Eu
não sei fingir como você, Malfoy.
- Olha Weasley, bem que eu vi, que era bom demais pra ser
verdade. - E Draco levantou-se, deu um último olhar à Gina,
encolhida no sofá, e foi para o dormitório da Sonserina.
Ela esperou até o barulho de passos cessar, e seguiu para a
torre da Grifinória. Mesmo tentando se controlar, ela estava
nervosa demais, e sem querer, bateu a porta do quarto que
dividia com Hermione. Ela acordou.
- Gina? É você...? - perguntou Mione, sonolenta,
- Sim, sou eu... durma Mione...- ela sussurrou
- O que houve.. hmm... é hora de acordar? - sentou-se na cama
- Não, ainda é cedo... eu só.. fui tomar água... boa
noite, Mione - murmurando, Mione se deitou e virou para o outro
lado. Gina deitou, e chorou quieta, como fazia quase toda noite.
Boa noite ex-futuro-querido-amigo-Draco, e ouviu, baixinho, no
fundo da sua cabeça Boa noite ex-futura-querida-amiga-Gina. Um
estalo. Dormiram.
Draco sonhou que corria e corria numa campina muito escura e
suja, e não conseguia achar ninguém. Chegou a um vilarejo de
casas de pedra, e todas as pessoas que ele pôde ver não tinham
rosto. Então ele avistou, longe, longe.. um vulto ruivo,
brilhando no fim da rua. Ele correu, tocou o ombro da pessoa e
disse Gina! Vamos sair daqui! E quando ela se virou, viu que
também Gina não tinha rosto. Acordou suado.
Gina andava devagar, ao redor do lago. Escuro. Murmúrios.
Quis levantar a varinha, mas a mão se negava a obedecer. Seguiu
em direção à já conhecida moita. Nesse instante, uma estrela
cadente iluminou Draco, como que morto, esticado na grama úmida
de sereno. Draco! Vamos sair daqui! Mas ele estava com os olhos
vidrados no céu, e não respirava. Acordou com o coração
disparado.
Draco encontrou Crabbe e Goyle no salão comunal, desceram
juntos para o salão, tomar o café da manhã. Gina encontrou
Hermione no banheiro feminino. Desceram juntas para o café.
Conversa fiada. Papo fútil. Palavras vazias. A mesa da
Sonserina estava habitualmente agitada, Draco contava uma
história tola qualquer. Harry e Rony combinavam o próximo
passeio a Hogsmeade, e Mione lia o novo livro de Aritmancia, sua
matéria preferida. Gina brincava com um biscoito, desenhando
nuvens e nuvens no pires cheio de glacê.
Ela levantou os olhos para a mesa da Sonserina. Olhou Draco,
rindo, vazio. Ele olhou para Gina. Sozinha, vazia. Sustentaram o
olhar. Pansy cutucou Crabbe que cutucou Goyle que cutucou Draco.
Ele riu e murmurou alguma coisa sobre a pobreza dos Weasley e as
roupas usadas de Ron. Riram. Gina desviou o olhar. Estava
segurando as lágrimas. Uma escapou. Seu Draco, aquele de ontem
à noite, devia ser um sonho, porque este, ali em frente,
continuava sujo e cruel, como sempre.
Aulas. História da Magia. Transfiguração. Gina, distraída,
girava um lápis sobre a mesa, nunca um dia havia sido tão
longo. Adivinhação. Poções. Aula com a Grifinória. Draco
ouvia os murmúrios de Goyle, que apontava um Neville cheio de
bolhas coloridas pelo corpo. Harry apontava para Malfoy. Obvio
que eles acham que fui eu.
- Que foi, Potter, eu sei que sou lindo e irresistível, mas
controle-se, disse Draco, num tom alto e malicioso
- Cala a boca, Malfoy. E tira essas coisas do Neville!
- Menos 5 pontos para a Grifinória, pela insolência do Sr.
Potter. - Bradou Snape, enquanto dava um gole de uma bebida
esverdeada para Neville. - e menos 5 porque Neville derrubou as
salamandras depois de começar a ferver o caldeirão.
Harry, Hermione e Rony cochichavam, olhando de canto de olho
para a bancada de Malfoy. Draco olhava. Não fui eu, vocês não
vêem