Quando começava a escurecer, Gina falou para Draco:
- Draco, acho melhor eu ir subindo, porque senão o Harry e o
Ron podem ficar desconfiados.. sabe?
- Ah.. sim.. tudo bem, Gina.. é uma pena... mas amanhã a gente
se fala, né?
- É! E hoje a noite também, né?
- É! Eu subo mais tarde, pra não dar na vista...
Ela ficou em pé, limpou a roupa e abaixou a cabeça na
direção de Draco. Ele olhou bem dentro dos olhos castanhos dela.
Ela sorriu e beijou a testa dele.
- Até depois! - ela disse, jovialmente, enquanto se afastava...
Até querida.. Gina.. ficou pensando Draco. Logo, ele também
juntou a capa, os pacotes de doce e subiu para o salão comunal da
Sonserina.
Gina encontrou Rony e Harry saindo da torre da Grifinória. Eles
olharam desconfiados para ela.
- Onde é que você estava? A gente já estava indo atrás de
você...- resmungou Rony.
- Eu.. eu.. estava.. andando por aí...
- Pelo trovão, Gina, não me diga que você estava com o tal do
Malfoy... você sabe que ele só quer atrapalhar a gente...
- Olha, Rony, eu to cansada, tá bom? Me deixa, que eu.. eu não
estava com o Dra.. com o Malfoy.
- Bom mesmo. Vamos Harry, a Mione já deve estar no Hagrid.
- É, vamos.. tchau Gina - disse Harry
- Eu posso... ir junto? - Perguntou Gina, baixinho.
- Melhor não. É secreto. - Disse Rony, virando as costas e
puxando Harry pela manga da veste.
Eu imaginava...Gina entrou pelo quadro da Mulher Gorda, passou
pela sala sem ser notada, e se jogou na cama.
*****
- Draco, Draco! Chegou uma coruja pra você! A Pandora foi me
cutucar lá no quarto! - resmungou Goyle, agitadamente, enquanto
apontava uma coruja cinzenta, quase preta, pela porta entreaberta
do quarto.
- Tá bom, Goyle...- disse Draco, sem ânimo.
Num instante Goyle correra para junto de Crabbe, sua
cara-metade. Draco entrou no quarto, as paredes úmidas da
masmorra cheirando à mofo. Pandora, sua coruja, veio voando em
sua direção tão logo ele atravessou a porta.
- Isso mesmo, Pan.. boa menina...- disse ele, acariciando a
cabeça fofa da coruja. - Só entrega pra mim...
Ele soltou o laço do pergaminho amarrado na perna da coruja,
que, prontamente, voou pela janela até o corujal. Draco leu.
"Draco
Encontraram a Narcissa. Venha esta noite mesmo para a mansão,
já mandei uma coruja pro idiota do Dumbledore e um coche estará
esperando logo que anoitecer. Em uns dois dias você poderá
voltar.
Lucius."
Ele olhou pela janela e viu o coche com um grande M no teto,
esperando junto ao portão. Suspirou. Só então percebeu que
havia mais alguém no quarto. Ele se virou. Era Pansy Parkinson.
- Suspirando pela Weasley, Draco...? - Ela perguntou baixinho.
Os olhos negros brilhando cruelmente.
- Como é que é, Pansy?
- Você acha que eu não vi? Ela entrou rindo no castelo, logo
depois você também entrou rindo... tá namorandinho aquela
pobretona Grifitrouxa?
- O QUÊ? - Ele gritou, puxando Pansy das sombras. - Como você
ousa falar assim da Gin...da Weasley? E eu não estava com ela!
- Então você não andou se agarrando com a Weasley, Draco? -
Ela perguntou, se livrando das mãos dele - Não estava num canto
com ela...
- Claro que não!!!
- Então me beija, Draco... vai... - ela estava se aproximando
dele, o rosto quase tocando o dele...
- Sai, Pansy! Eu to ocupado e .. não quero beijar nem abraçar
nem encostar em você!
- Ah é? Agora é propriedade exclusiva da Weasley? - Ela
comentou, feroz, andando ao redor de Draco...
- Cala a boca, e sai do meu quarto - Cuspiu Draco, enquanto
empurrava Pansy porta a fora.
Ela ainda abriu a boca num esgar para dizer algo, mas ele fechou
a porta com estrondo, na cara malvada da garota.
Só me faltava essa... a idiota da Pansy acha que eu gosto da
Gin... mas.. será possível?
Gina estava na cama. O Rony fica me incomodando, acha que eu to
fazendo o que, namorando o Malfoy? Deve achar que eu gosto dele...
mas... será possível?
Pelo trovão... Eu estou apaixonado pela Weasley.
Santa varinha... Eu estou apaixonada pelo Draco.
Tec.
Gina, oi? Tá me ouvindo?
Ops.. Draco? Estou sim.. desde quando você está aí?
Acabei de fazer o feitiço. Porque? Fazendo coisa feia?
Não... nada não... o que foi..?
Eu.. eu...
Você?
Ah, Gina.. eu..
Draco...
Eu tô indo embora essa noite. Acharam ela.
Nossa... hmm.. e quando você volta?
No fim-de-semana, creio eu...
Seja forte, tá bom? Qualquer coisa, me chama...
Tá bom.. acho que.. que vai ser horrível...
Mas você vai agüentar sim... sério...
Não me esqueça nesse meio tempo!
Nem você, Draco!
Beijo, Gin. Tchau.
Tec.
Será que ele não ouviu nada mesmo? Nesse instante, Edwiges, a
coruja de Harry entrou pela janela.
- Que é isso, Edwiges? - se assustou Gina, enquanto apanhava a
carta que ele trazia nas garras.
"Gina
Pega a capa do Harry, está perto da lareira, atrás do vaso
azul, na sala. Não precisa vir no Hagrid, entrega pra Edwiges que
ela traz.
Ron"
Ela olhou para a coruja pousada na sua cama. Eles confiam e
gostam mais dessa coruja do que de mim... E saiu da sala, para
buscar a tal capa. Encontrou bem atrás do vaso azul. Colocou
dentro das vestes e decidiu ela mesma entregar na cabana do
Hagrid.
Saindo pelo quadro, tropeçou em alguém que estava parado, no
corredor.
- Opa.. desculpa... - murmurou Gina, tentando enxergar melhor
- Desculpa nada, Weasley. Fica quieta que eu tenho que te contar
umas coisinhas... - uma voz feminina, rouca.. que Gina não
conhecia murmurou - sobre o seu Draquinho..
- O quê? Meu o que? - Ela resmungou, puxando o ser para fora
das sombras... era uma menina da Sonserina, que sentava perto de
Draco... - Quem é você?
- Pansy, Pansy Parkinson, a namorada do Draco Malfoy.
- A o quê? - Ela perguntou assustada, namorada? Com certeza ele
teria contado... mas ele já havia falado algo sobre Pansy...
- Na-Mo-Ra-Da. E é bom você sair de perto dele, viu, Weasley?
Senão ele pode fazer algo que você talvez não goste, na sua
inocência...
- o- o - o quê?
- Ai, Weasley, acho que você é surda. Mas eu já avisei.
Cuidado, que o Draco não é um menininho. É um homem. É o MEU
homem. Avisada.
Ela virou as costas e sumiu no corredor mal iluminado. Gina
estava tremendo. Voltou para o quarto e entregou a capa para
Edwiges. Não estava mais preocupada em ser excluída. Sentiu um
estalo no peito. Era o seu pequeno coração adolescente quebrando
mais uma vez.
*****
Poxa.. eu nunca tinha reparado que a mansão era tão
longe...pensou Draco, enquanto olhava monotonamente através da
janelinha do coche. Vou falar com a Gin... to morrendo de
saudade... será que eu conto pra ela? Ele puxou a varinha de um
bolso interno da veste, e fez o feitiço. Nada. Tentou de novo.
Nada. Será que eu fiz alguma coisa errada? Mais uma vez. Nada.
Claro... só funciona se ela quiser falar comigo... ela não quer
falar comigo?
Draco guardou a varinha e apoiou a cabeça na janela, estava com
o coração apertado. Será que ela não gosta de mim tanto assim?
*****
Como eu pude me iludir tanto? Pensava Gina, chorando baixinho, o
rosto colado ao travesseiro. Na verdade, ele não tem culpa...
não fez nada errado... ele quer ser meu amigo, eu acredito
nisso... mas é só isso...
No meio desses devaneios, Hermione entrou afobada no quarto:
- Gina, você aqui... - exclamou Mione, ao ver Gina deitada.
- Pois é..
Hermione mexeu na mala, tirou um livro grosso, que pelo que Gina
pode ler no escuro era entitulado 'Feitiços Dolorosos: Como
causar e repelir dor.' Gina sentou na cama, passou as mãos
rapidamente pelo rosto.
- Eu posso ir com você, Mione? Eu estou me sentindo meio
sozinha - murmurou Gina, temendo a resposta.
- Ah Gina, hoje não, tá? A gente tá meio ocupado... -
desculpou-se Hermione, saindo do quarto. - Se você tá sozinha,
dá uma voltinha na biblioteca.... - e bateu a porta.
- Claro...- resmungou Gina, sem ânimo nem emoção. -
Biblioteca...
Ela puxou um livro de debaixo da cama, e começou a folhear o
enorme índice.
- Hmm... vamos lá... aliviar, aliviar... achei.
E começou a ler, quase no meio do livro 'Amor de Bruxo', o
capítulo referente ao alívio de corações partidos, paixões
arrasadoras e bruxos sedutores. Ela não sabia qual era o seu
caso, possivelmente uma mistura dos três, e, em pouco tempo, ela
estava dormindo, debruçada nas páginas amareladas do chá
anti-paixão.
*****
Quando o coche chegou na mansão, Draco estava dormindo. Jake,
mordomo, um fantasma sério e respeitoso, bateu na janelinha para
acorda-lo.
- Hmm... onde, o que... hmm.. oi Jake - murmurou Draco, abrindo
a porta, e descendo, enquanto Tobby e Mobby, dois dos elfos
domésticos dos Malfoy carregavam as malas porta a dentro.
- Como foi a viagem, senhor? - perguntou Jake, pomposamente,
enquanto Draco seguia para o Hall de Entrada da casa.
- Boa, Jake, boa...
Logo que passou pelo grande portal, sentiu novamente o frio
constante que era habitual na suntuosa mansão de pedra.
- Seu pai mandou avisar-lhe para tomar um banho e se vestir
propriamente para a cerimônia, que acontecerá ao entardecer -
disse Jake, veemente.
- Mas e o almoço?
- Já está servido no seu quarto, senhor. - e com um estalo, o
fantasma-mordomo desapareceu.
- Claro... nem por um instante eu imaginaria que ia almoçar
acompanhado... - resmungou Draco, subindo a longa escada de
mármore, à esquerda da entrada.
Ao final da escada, ele seguiu pelo corredor à direita, virou
duas ou três vezes, andando em corredores cobertos de quadros de
toda a família Malfoy. Algumas senhoras bem vestidas sorriam
sobriamente, os homens, geralmente carrancudos, resmungavam
sozinhos ou uniam-se em grupos de dois ou três para apontar para
Draco.
Eles sabem que eu não mereço ser um Malfoy... sabem que eu sou
fraco demais... mas só eles sabem... só eles...
Finalmente, chegou à grossa porta de seu quarto, empurrou,
entrou. Fechou a porta silenciosamente. Ao lado da cama, havia uma
mesinha armada, trêmula. Trêmula porque Tobby, o elfo
doméstico, era quem estava sustentando-a .
- Tobby! A mesa é pesada demais pra você! - exclamou Draco,
retirando o tampo dos braços do elfo, suado de esforço, e
depositando sobre a cama
- Desculpe senhor, perdão.. Tobby é fraco... - tremia o elfo,
fazendo reverências para Draco.
- Pare com isso, sabe que quando estamos sozinhos você pode
agir normalmente... - disse Draco, displicente, enquanto apanhava
uma maçã de um dos pratos.
- Mas senhor... o senhor é sempre tão cruel..- dizia Tobby,
arregalando os olhos e mordendo os próprios dedos.
- Tobby, você está bem? Desde quando eu sou cruel com você? -
respondeu Draco, mordendo a maçã e observando curioso o elfo se
debater.
- Não senhor... o senhor é mau, castiga Tobby, castiga!!! -
guinchava o elfo, arranhando os braços.
- Eu hein, Tobby. - Draco sentou-se na cama, devagar.- Senta
aí...
- Então é assim que um Malfoy trata um desprezível elfo
doméstico? - Draco ouviu uma voz rouca ribombar como um trovão
pelo quarto. Era Lucius.
- Ah... hmm.. Lucius... eu... - murmurava Draco, desconexamente,
enquanto o vulto do pai de despregava da sombra do guarda roupa, e
Tobby corria para fora do quarto, ganindo.
- Eu vi muito bem o que você fez, Draco. Tratando um elfo como
um igual? Qual é o próximo passo? Ficar amigo do Potter? Casar
com uma sangue-ruim? Não.. é pouco... você vai ir morar com os
trouxas?! - Gritava Lucius.
- Mas papai...pai.. Lucius...
- Mas nada! Você envergonha os Malfoy! Se não é frio e
organizado o suficiente, finja!
- Mas eu finjo, eu finjo! - respondeu Draco, com os olhos cheios
de lágrimas. - Eu finjo mais do que consigo! Sou cruel o tempo
todo, reclamo, grito, trato mal...
- E eu viro as costas e você convida um elfo à sentar na sua
cama!?
- Ele estava cansado... o tampo era muito pesado...
- E daí? Ele é um elfo! É nosso escravo. Nasceu pra fazer
isso. Você tem que entender que NÓS SOMOS SUPERIORES! - gritou
Lucius - E agora seque essas lágrimas de trouxa, coma logo e se
arrume. Logo os convidados vão chegar e eu não quero me
envergonhar mais ainda.
Assim que Lucius bateu a porta, Tobby aparatou ao lado da cama
de Draco.
- Eu tentei avisar o senhor.. eu tentei.. - ele murmurava,
nervosamente.
- Tudo bem Tobby, eu vou tomar um banho.. vai dar tudo certo -
disse Draco, secando o rosto. - Vai dar tudo certo.
Tobby ficou olhando Draco pegar uma toalha e ir para o banheiro,
e logo que ele fechou a porta, sussurrou, abaixando a cabeça, com
pesar, as grandes orelhas pendendo dos dois lados da cabeça,
tristemente: