Solitários - Capítulo 5 - De como todos os corações quebram
Capítulo 5 - De como todos os corações se quebraram
No dia seguinte ao que Draco partira para a mansão, Gina
acordou dolorida e cansada. Ainda tinha o livro como travesseiro,
sentando-se na cama, fechou-o devagar, ao ver Mione dormindo.
Ela deve ter chegado tarde... geralmente ela chega tarde, quanto
eles ficam agitados assim
...Levantou da cama e foi tomar
banho. Aos poucos, retomou consciência de Draco, Pansy, e de como
seu coração tremia toda vez que pensava que pelo menos eram
amigos. Repentinamente, sentiu uma vontade alucinada de falar com
ele, ouvir a sua voz, o seu humor corrosivo... então, um estalo.
Tec.
Gina?
Draco, oi...
Porque você não queria falar comigo ontem? Eu fiquei tentando
o dia todo...
Ah.. hmm... eu estava meio ocupada... mas tá tudo bem?
Não, né... meu pai me pegou conversando com um elfo... foi
triste...
Nossa, eu imagino... era aquele da foto que você me mostrou?
Qual?
Aquela de vocês montados nas vassouras..
Ah, sim.. era o Tobby...
E como foram os rituais?
Solenes como sempre. Ela ainda estava linda... acho que a neve
conservou bem...
Sinto muito...
Não, tudo bem... eu só.. só queria avisar que eu vou chegar
hoje à noite..
Ah.. hmm..
O que foi, você parece estranha...
Nada não Draco... nada... então... te espero...
Tá bom, se você diz... tchau..
Tchau
Tec.
Draco coçou a cabeça, intrigado, enquanto comia mais um grão
de uva. O que será que aconteceu? Será que ela descobriu que
eu.. que eu.. gosto dela? Impossível... mas ela estava tão...
seca... áspera... Engoliu rapidamente o resto do cacho,
despediu-se de Tobby, entrou no coche, novamente à caminho de
Hogwarts. Eu vou descobrir o que aconteceu assim que chegar
lá... e talvez... dependendo... eu conte... Ele sorriu
intimamente e acenou para o cocheiro. O cavalo disparou pela larga
estrada, atravessou a muralha da mansão, e logo Draco estava
dormindo, encostado no vidro.
*****
Gina terminou o banho, vestiu-se, e desceu para a aula de Trato
das Criaturas Mágicas. Assim que chegou ao grande pátio, onde
Hagrid havia espalhado uma porção de feno azul, ela pode avistar
o animal estudado essa aula: um reluzente unicórnio, prateado,
belo e inocente, pastando à um canto do picadeiro.
- Olá Gina, como vai? - perguntou Hagrid, calmamente, enquanto
aumentava a montanha de pasto para que o unicórnio se aproximasse
dos alunos, que chegavam em grupinhos animados: Grifinória e
Sonserina, aula conjunta. - Tudo bem Hagrid... você parece meio
cansado - ela respondeu, observando olheiras sob os olhos escuros,
entre a barba desgrenhada.
- Ah... tivemos uma noite agitada... - ele riu. Imaginei...
Hagrid, Mione, Harry, Rony, a capa, livros suspeitos...
A aula transcorreu sem maiores surpresas, afinal, unicórnios
são animais calmos e quietos. Gina logo estava à caminho da aula
de feitiços, com o professor Flitwick, quando ouviu um sussurro
no corredor à esquerda.
- Gina.. aqui...
Ela caminhou até lá, e era Harry, escondido atrás de uma
armadura.
- Harry? - ela perguntou, um pouco perplexa.
- Olha Gina, se você encontrar a Mione e o Rony, diz pra eles
irem pro Salgueiro Lutador que eu vou estar esperando lá, tá
bom?
- Tá bom... - ela respondeu, sem ânimo. Nem vale a pena
perguntar, se eu já sei a resposta. E voltou a caminhar para a
sala, enquanto Harry seguia, sorrateiramente, o caminho oposto.
Quando estava à apenas duas portas da sala, sentiu uma mão
quente puxar seu braço para dentro de uma sala escura e vazia.
Mas será o meu dia? Todo mundo fica me incomodando???
- O que está acont.. quem é... como?- ela perguntou,
desconexamente, enquanto ia cada vez mais fundo na sala escura,
arrastada sabe se lá por quem.
- Estava morrendo de saudade, Gin, não pude esperar até de
noite.- ela ouviu a voz habitual e sincera de Draco sussurrar,
ainda segurando seu braço fortemente.
- Draco? Mas.. porque aqui? - ela perguntou, começando a se
acostumar com a escuridão, encontrando o contorno do corpo dele
junto do seu próprio.
Então ela sentiu um forte puxão, e logo seu corpo estava
colado ao longo do corpo de Draco, que se abraçava à ela,
delicadamente. Ela sentiu um calor súbito percorrer o seu corpo,
o rosto ardendo, o ombro latejando com o contato da cabeça
apoiada dele.
- Poxa... foi.. foi horrível, Gin... - ele começou a chorar,
soluçando baixinho. - Ele me fez maltratar o Tobby na frente de
todo mundo, disse que eu só trago vergonha aos Malfoy...
Ela, sem saber ao certo como agir, começou a passar a mão
pelos cabelos finos de Draco, enquanto murmurava:
- Ah, Draco, você sabe que é especial...
- Mas porque eu? Porque eu não pude nascer na família certa?
Porque não ser cruel é tão ruim... - ele soluçava mais forte
agora, o corpo tremendo junto ao de Gina.
Então aconteceu. Ele tirou a cabeça do ombro dela, no mesmo
instante que um sopro de vento puxava a cortina para o lado. Uma
nesga de luz iluminou os dois rostos, que se olhavam atentamente.
Ela, quieta e assustada, e ele, pálido, com o rosto molhado de
lágrimas. Draco abaixou um pouco a cabeça, fechou os olhos. Gina
não teve tempo, nem vontade de pensar em nada, até que sentiu os
lábios dele colados aos dela. Ele sentiu toda a tristeza
evaporar-se com o calor que emanava de Gina, e o calor do sol
arrepiou os seus braços que envolviam a garota.
Ela, sentindo que ia desmaiar, agarrou com uma mão as costas
largas de Draco, e com a outra, pressionou ainda mais a cabeça
dele junto à dela. As mãos dele correram pelas costas de Gina,
apertando, acariciando, buscando com um desespero que ele nunca
sentira antes, ter Gina tão perto de si quanto fosse possível.
O mesmo vento que afastou as cortinas, bateu a porta da sala.
Bem a tempo, porque nesse instante, Harry passava, furioso, rumo
à torre da Grifinória, seguido por Hermione e Rony que corriam
atrás dele, murmurando palavras sem sentido. Mas, além de fechar
aos olhos de Harry, Mione e Ron, o primeiro e grande beijo de Gina
e Draco, ela fez o casal se separar, assustado.
- Ai.. Gin... desculpa... eu.. sinto muito... não queria te...
te forçar a nada... - ele murmurava rapidamente, olhando para a
garota com olhar acusador.
- Desculpa? - ela esbravejou - Sente muito? Não é pra mim que
você tem que dizer isso, Malfoy! - e saiu da sala, batendo a
porta, deixando Draco atônito num canto da sala.
O que eu fui fazer...
ele se condenava Eu... mas
parecia... que ela também queria... e pra quem eu haveria de dizer
se não para ela... Ficou relembrando o calor do corpo de Gina,
e o gosto de chocolate dos lábios úmidos dela, quanto, de repente,
como num estalo, ele pensou: Ah, claro.. eu tenho que pedir
desculpa pro Potter.. ela gosta do Potter... porque haveria de
gostar de mim, se sempre gostou dele? Ele pensou com amargura.
Pelo menos... eu já tenho.. do que me lembrar... Sorriu
tristemente, e seguiu para as masmorras da Sonserina.
*****
Como - ele - pode?
Pensava Gina, enquanto caminhava irritada
para o quadro da mulher gorda. Bem que aquela namorada bigoduda dele
me falou... que atrevido... ela esperou a mulher do quadro aparecer
por inteiro e disse, gritando:
- Hócus Pócus!!!
- Calma, garota... nossa.. hoje é o meu dia, todo mundo
nervosinho... - suspirou a guardiã da entrada da Grifinória,
enquanto abria espaço para Gina passar.
Pisando forte, ela já estava atravessando o salão comunal
quando se deparou com uma cena inusitada: Mione estava sentada no
chão, ao lado de Harry, que estava com a cara mais indignada do
mundo, enquanto Rony, em pé, falava veemente com Harry. Como
ainda era horário de aulas, o salão comunal estava vazio, e as
vozes do trio retumbavam pelas quatro paredes de pedra.
- ... nunca tivemos intenção de te machucar ... - dizia Rony
- E nem pensar em perder a tua amizade... - incluía Mione,
tentando alcançar as mãos de Harry, que se esquivava.
- Então porque mentir, hein??? - Harry gritava.
- ... a gente ia contar um dia...
- ... logo, claro ...
- ... e sinto muito que você tenha descoberto assim...