O pátio vai à Hogwarts -  Capítulo 2 - Noitebus?
Capítulo 2 - Noitebus?
 
Andamos quase meia hora sem que ninguém dissesse uma palavra. O silêncio era recortado pelos nossos soluços entre as lágrimas pelos senhores mortos e pelos passos apressados do Querubim que rodeava o resto do grupo. O Odécio e o Crazyman sentados com os braços apoiados nos joelhos seguravam a cabeça e tinham o semblante tão triste que era melhor que chorassem. O Mingal mais ao fundo limpava os óculos.
Só o Quase-nada não estava lá. Ele tinha ido conversar com o motorista e até agora não tinha voltado.
- Alguém pode me dizer a onde estamos? – perguntou o Mingal, quebrando o silêncio – Se ninguém notou nós estamos num ônibus a meia hora indo não sei para onde, com um maluco que pensa que é bruxo....
Parei de chorar e olhei em volta pela primeira vez, enxugando as lágrimas. Com certeza não era um ônibus comum. Além de roxo, era enorme por dentro, com leitos e pessoas esquisitíssimas neles. Incluindo um senhor de nariz anduco e camisola laranja, que dormindo, pedia em inglês, um chá de qualquer-coisa-que-eu-não-entendi-de-dragão.
- Se não fosse uma loucura muito grande eu diria que isso aqui é um noitebus... – murmurou a Thaís.
- Noitebus? – perguntaram todos ao mesmo tempo.
- Não poderia ser... – retrucou o Odécio – Isso não existe!!
- Bom, se não for outro presente do governo americano para Sobral...* Esse ônibus me parece estranho o suficiente para ser um noitebus – comentei.
- Gente, que é isso? Eu não posso acreditar! Quer dizer que agora estamos dentro de um transporte de bruxo? Ah! É impossível!!! – desacreditou Crazyman se levantando num impulso.
- Olha, detesto dizer, mas isso aqui É um noitebus, sim! Ou será que ninguém está sentindo que este ônibus anda numa velocidade incrível? Próxima a do Messejana expresso!** – Querubim defendia sua opinião andando de um lado para o outro – Sem mencionar o fato que mais ninguém aqui dentro fala Português...
- Sim, é difícil de acreditar, mas estamos num noitebus. O que é isso, hein?
- Mozo!*** Desculpe, Mingal! Foi irresistível!
- Tá Odécio! Tá!
Quase-nada entra no meio das risadas da galera.
- Que bom que os ânimos estão melhores – falou Quase-nada.
Ele estava diferente. Tinha trocado de roupa, usava vestes longas verde esmeralda. O olhar era o mesmo mas andava e usava o corpo de uma maneira diferente, formal e cheio de reverências.
- Isso aqui é um noitebus, Quase-nada? – perguntei.
- Claro que sim, oras... O que pensavam que fosse? – respondeu com um cinismo impressionante.
- E o que é que nós estamos fazendo aqui e não em casa? – perguntou o Odécio ainda incrédulo.
- A pergunta certa, Odécio, é: Por que?
- Que seja!
* Sobral é um município próximo a Fortaleza. Recentemente o governo americano fez uma doação de School busses, aqueles amarelões mesmo, para Sobral.
** Messejana expresso é um dos ônibus que têm acesso ao reino perdido da Messejana. Na verdade, devido a grande velocidade que os motoristas costumam atingir nestes ônibus, nós acreditamos que eles sejam portais dimensionais.
*** Mozo! Expressão que significa " meu ovo" e deve ser dita sempre que alguém der a deixa, não importa a situação.
- Como eu disse no shopping e vocês não acreditaram, vocês foram escolhidos para uma missão, de grande importância por sinal. E eu fui o encarregado de leva-los em segurança até essa missão. Pelo que podem ver, é o que eu estou fazendo agora...
- Levar a gente para onde, então? – perguntou o Crazyman ansioso.
- Hogwarts.
- Ah tá!! E o coelhinho da Páscoa também vai? – brinquei.
- Bem... Não sei... Não o conheço pessoalmente...
- Gente, estou lendo Harry Potter demais!! Isto aqui é uma alucinação e vai passar... – A Thaís fechou os olhos, contou até dez, piscou... Mas nós continuávamos ali.
- Não vai adiantar. Nós estamos mesmo neste ônibus doido indo para onde mesmo? – se indignou o Mingal.
- Hogwarts, a escola de magia e bruxaria.
- E nós vamos fazer o que lá? – Thaís perguntou.
- Cumprir a missão que foi determinada!
- E que missão é essa? – perguntei.
- Não me diz respeito! Não sei do que se trata.
- Suas respostas são tão esclarecedoras... – me irritei.
- Obrigado! – ele ainda agradeceu.
- Supondo que a gente aceite a missão... – Odécio tentou começar.
- Vocês aceitarão ou aquele-que-não-deve-ser-nomeado voltará a reinar com força total. Nesse momento temos que nos unir pelo bem de todos.
- Voldemort também existe? – Querubim gritou. Alguns bruxos acordaram ao ouvir o nome.
- Pssssssssiiiiiiiiiiiiuuuuuuu!!! Não diga essa palavra, ela provoca pavor - brigou Quase-nada –Principalmente agora que ele tem praticamente todos os seus poderes restabelecidos.
- É muito arriscado! – falei - Não sei no que podemos ser úteis!
- Também não entendo! Não fui informado. Mas acho que tem haver com a invasão do Brasil...
- Invasão do Brasil? Como assim? – quis saber Odécio.
- Bem... O país está dominado pelos comensais da morte. Aqueles bandidos que nós vimos no Iguatemi são comensais. É muito fácil sentir a presença deles. Não fazem muita questão de se esconder quando estão a serviço.
- Credo! E para que matar os velhinhos, então? – perguntou Crazyman.
- Pensavam que fossem vocês...
- Ah tá!! Legal!! Vamos voltar para casa – eu disse – Isso não é coisa para a Thaís.
- Qualé, Priscila? Sempre quis ir para Hogwarts. E estou tendo essa chance agora...
- Basta um Avadra Kedrava que nós tamo fudido! – lembrou Crazyman.
- Por que vocês não vão dormir um pouco? Devem estar exaustos e com a cabeça cheia de idéias para digerir. Quando chegarmos eu acordo vocês.
- Se eu não tivesse certeza de que você nos trouxe aqui para morrermos, poderia até dizer que você é gentil...
- Boa noite para você também, Priscila.

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